GÁLATAS
Introdução 1.1-5
O outro “evangelho” 1.6-10
A missão e a mensagem de Paulo 1.11—2.21
A defesa do verdadeiro evangelho 3.1—4.31
O evangelho e a vida cristã 5.1—6.10
Palavras finais e bênção 6.11-18
INTRODUÇÃO
Quando o evangelho se espalhou pelo Império Romano e muitos não-judeus começaram a aceitar Jesus como Salvador, logo surgiram discussões se era necessário que os não-judeus seguissem as leis dos judeus, especialmente a lei que mandava que todo homem fosse circuncidado (At 15.1-33). Essa mesma discussão aconteceu nas igrejas que o apóstolo Paulo havia fundado na região da Galácia. Vários cristãos judeus estavam dizendo àqueles cristãos não-judeus que eles precisavam obedecer à Lei de Moisés para que fossem aceitos por Deus.
A Carta aos Gálatas é a resposta que Paulo dá a essa falsa doutrina. Com argumentos fortes e palavras, às vezes, chocantes, Paulo denuncia esse falso “evangelho” que está sendo anunciado e procura levar de volta para a fé verdadeira aqueles que estão se desviando do caminho certo. Ele fala sobre a sua própria experiência cristã e defende a sua autoridade como apóstolo. Mostra também como, na reunião dos líderes cristãos realizada em Jerusalém, ele tinha recebido a aprovação deles para continuar a anunciar aos não-judeus a mensagem de que a salvação depende somente da fé e não daquilo que a Lei de Moisés manda fazer. Em defesa da sua posição, Paulo cita o AT e fala sobre a experiência de Abraão, o pai do povo escolhido. Ele mostra que Abraão foi aceito por Deus não por causa das suas obras, mas porque teve fé em Deus. Na última parte da carta, Paulo fala sobre a liberdade que têm as pessoas que crêem em Cristo e como essa liberdade se torna realidade na vida cristã.
1. CONTEÚDO
Como de costume, Paulo começa esta carta com uma saudação (1.1-2) e uma oração em favor dos leitores (1.3). Mas nessa carta Paulo não faz uma oração de ação de graças pelos leitores, como faz na maioria das outras cartas (Rm 1.8-12; 1Co 1.4-9; Fp 1.2-11; Cl 1.13-14). Ele começa logo a tratar do assunto que o leva a escrever aos gálatas.
Depois de criticar severamente os que estavam anunciando uma mensagem diferente do evangelho que ele havia anunciado aos gálatas (1.6-10), Paulo se defende da acusação que os seus adversários estavam fazendo contra ele. Eles estavam dizendo que Paulo não era um apóstolo como os apóstolos que tinham sido chamados por Jesus. Paulo afirma que foi o próprio Senhor Jesus Cristo quem o chamou para ser apóstolo e que os apóstolos em Jerusalém o tinham aceitado e dado o seu apoio à missão que ele havia recebido de pregar o evangelho aos não-judeus (1.11—2.21).
Nos caps. 3—4, Paulo desenvolve o tema central da Carta: Deus aceita a pessoa por causa da sua fé em Cristo Jesus e nunca porque obedece à Lei de Moisés. Paulo mostra que o propósito da lei nunca foi o de ser o meio de salvação; a promessa que Deus fez a Abraão veio muito antes da lei, cuja validade terminou quando Cristo veio ao mundo. A lei nos leva para a escravidão e morte espirituais; a graça de Deus nos traz vida.
Em seguida (5.1—6.10), Paulo fala sobre a liberdade que temos por estarmos unidos com Cristo Jesus. Essa liberdade, entretanto, precisa ser usada para o bem dos outros, sob a direção do Espírito de Deus, o qual se opõe à natureza humana.
Paulo termina com um último apelo aos gálatas para que fiquem firmes no evangelho da graça de Deus. É a morte de Cristo na cruz que nos salva, que faz com que sejamos pessoas novas.
2. MENSAGEM
2.1. Como é que Deus nos aceita Como é que somos salvos? A resposta de Paulo é que a salvação vem somente da graça de Deus por meio da nossa fé em Cristo Jesus e nunca por meio de obras. Pois, se a pessoa é salva por obedecer à lei, então a morte de Cristo foi em vão (2.21).
2.2. O Espírito de Deus e a natureza humana Há duas forças que nos podem dominar: a nossa natureza humana (ver 5.13, n.) ou o Espírito de Deus (ver 5.16-26, n.). A natureza humana (“a carne”) leva à morte; o Espírito de Deus dá vida. Essas duas forças são inimigas uma da outra, e os cristãos precisam deixar que o Espírito dirija a vida deles (5.16).
2.3. Unidos com Cristo Jesus Esta é uma das figuras que Paulo usa para falar sobre a vida cristã. No batismo, ficamos unidos com Cristo e nos vestimos com as qualidades dele. E todos somos um só por estarmos unidos com Cristo Jesus (3.27-28).
2.4. Mensagem para hoje A mensagem que Paulo escreveu para os gálatas no primeiro século da era cristã precisa ser ouvida muitas vezes pelos cristãos de hoje. A mensagem é esta: por causa da graça de Deus, ficamos livres do poder do pecado e temos a liberdade que Deus dá por meio de Jesus Cristo. Essa liberdade é aceita e recebida pela fé, somente pela fé, e nunca pelas obras. A mensagem de Paulo vale para nós tanto quanto valeu para eles: “Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres. Por isso, continuem firmes como pessoas livres e não se tornem escravos novamente” (5.1).
3. DATA, LUGAR ONDE FOI ESCRITA, LEITORES
3.1. Não sabemos exatamente quando é que Paulo escreveu esta carta, mas foi depois da visita que ele e Barnabé fizeram a Jerusalém a fim de se encontrar com os outros apóstolos e que é relatada em Gl 2.1-10. Muitos estudiosos acham que essa visita foi a mesma que é contada em At 15.1-35; nesse caso, a carta foi escrita mais ou menos no ano 56 d.C. Outros, no entanto, acreditam que essa visita de Gl 2 corresponde a uma viagem que foi feita algum tempo antes e que é mencionada em At 11.30; 12.25. Seja como for, a Carta aos Gálatas é uma das primeiras cartas que Paulo escreveu.
3.2. Não é possível dizer qual é o lugar a que Paulo se refere quando diz, em 1.2, “Todos os irmãos e irmãs que estão aqui comigo...” A cidade de Éfeso ou alguma cidade situada na província da Macedônia são os dois lugares mais prováveis.
3.3. O lugar chamado “Galácia” (1.2) pode referir-se a uma das seguintes regiões: 1) Pode ser a província romana que, naquele tempo, incluía o território ocupado hoje em grande parte pelo Centro-Sul da Turquia. As cidades de Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe ficavam na província da Galácia. Na sua primeira viagem missionária, Paulo havia fundado igrejas nessas cidades (At 13.13—14.23), e, assim, “as igrejas da Galácia” seriam aquelas mesmas igrejas. 2) Mas “Galácia” pode referir-se também à região em que moravam gauleses, no território que hoje faz parte da região Centro-Norte da Turquia. Ali ficavam as cidades de Pessinus, Górdio e Ancira, as quais não são mencionadas nas atividades missionárias de Paulo. Mas alguns acham que a “região da Frígia-Galácia” de At 16.6 (ver também 18.23) se refere à Galácia dos gauleses.
4. OS ADVERSÁRIOS DE PAULO
Os que estavam perturbando os gálatas são considerados por Paulo como falsos cristãos e “espiões” da liberdade dos outros (2.4), homens que pregavam um “evangelho” diferente do evangelho que Paulo pregava (1.9). Não é possível dizer exatamente quem eles eram, mas sabemos o que estavam ensinando. Eles estavam dizendo que os não-judeus que queriam se tornar cristãos precisavam obedecer às leis e às cerimônias do Judaísmo. A mais importante dessas leis era a que mandava que todo homem fosse circuncidado, para assim fazer parte do povo escolhido de Deus e ser herdeiro da aliança que Deus havia feito com Abraão.
Parece claro que eles eram cristãos que tinham vindo de um ambiente judeu muito rigoroso e que estavam acostumados a cumprir a Lei de Moisés nos seus mínimos detalhes. Também é provável que eles não eram da Galácia, mas tinham vindo de outros lugares. Não é possível afirmar que os homens que Tiago tinha enviado a Antioquia (2.12) eram, de fato, os adversários que Paulo condena tão severamente.
Eles estavam acusando Paulo de duas coisas: 1) Ele não era um verdadeiro apóstolo e por isso não podia falar com autoridade apostólica. 2) Diziam também que o evangelho que Paulo anunciava não estava certo e que, por isso, precisava ser corrigido por alguns outros ensinamentos e práticas religiosas.
Paulo se defende energicamente dessas duas acusações e usa de uma severidade fora do comum tanto ao condenar os seus adversários como também ao tratar com os próprios cristãos da Galácia. Ele sabia que a verdadeira mensagem da boa notícia da graça de Deus corria o perigo de ser substituída por ensinamentos falsos, o que levaria os gálatas a serem excluídos da graça de Deus. Foi por isso que ele escreveu esta carta com vigor e convicção aos seus amados irmãos das igrejas da Galácia.
AT Antigo Testamento
caps. capítulos
5.13, 5.13 chamados para serem livres Ver v. 1, n. a natureza humana Ao pé da letra, o texto original diz “carne”, palavra que é usada muitas vezes no NT para falar sobre o ser humano como ele é, separado de Deus e dominado pelo pecado (ver Intr. 2.2; vs. 6-17). amor Ver 1Co 8.1, n. sirvam uns aos outros Mt 20.26; 1Pe 4.11.
5.16-26, n. 5.16 natureza humana Ver Intr. 2.2.
d.C. depois de Cristo