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segunda-feira, 23 de julho de 2012

HAMARTIOLOGIA (A doutrina do pecado)


HAMARTIOLOGIA
(A doutrina do pecado)


São os mais diversos, os conceitos entre os homens que ao longo da história surgiram acerca da origem do pecado. Irineu, bispo de Lião, na Gália (130-208 d.C), foi talvez, o primeiro dos pais da igreja antiga a assegurar que o pecado no mundo se originou da transgressão voluntária de Adão no Éden.
Muitas outras opiniões quanto ao assunto surgiram desde então. Por exemplo, os gnósticos ensinavam que o contato da alma com a matéria, tornava aquela, imediatamente pecadora. Esta teoria despojou o pecado do seu caráter voluntário e ético, como é apresentado nas Escrituras.
Evidentemente, Deus na sua onisciência, já via a entrada do pecado no mundo bem antes da criação do homem; porém, devemos ter o cuidado, ao fazermos esta interpretação, de não lançarmos sobre Deus a responsabilidade como autor do pecado. Deus é santo (Is 6.3) e não há nele nenhuma injustiça (Dt 32.4; Sl 92.15). O pecado não teve sua origem na terra, mas no mundo angélico; daí passou Adão, até que se tornou um flagelo universal.


Capítulo 1
A ORIGEM DO PECADO

Na Bíblia, o mal moral que assola o mundo, normalmente chamado pelos homens de fraqueza, equívoco, deslize, se define claramente como pecado. Também podemos encontrar fracasso, erro, iniqüidade, transgressão, contravenção e injustiça. À luz do ensino geral das Escrituras, o homem é apresentado como um transgressor por natureza. Mas, como adquiriu o homem essa natureza pecaminosa? O que a Bíblia diz acerca disso? Para responder a estas perguntas devemos considerar o seguinte:

1.1. DEUS NÃO É O AUTOR DO PECADO
Evidentemente Deus na sua onisciência já vira a entrada do pecado no mundo, bem antes da criação do homem. Porém, deve-se ter cuidado para, ao fazer essa interpretação, não lançar sobre Deus a causa ou autoria do pecado. Esta idéia está excluída da Bíblia. Jó 34.10 diz: “Longe de Deus o praticar ele a perversidade, e do Todo-Poderoso o cometer injustiça.”
Deus é santo (Is 6.3) e não há nele nenhuma injustiça (Dt 32.4; Sl 92.15). Tiago diz: “Ninguém ao ser tentado, diga: sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta”. (Tg 1.13). Deus odeia o pecado, e a prova disto é que ele enviou Jesus Cristo como provisão, para destruir o pecado e salvar os homens. Assim sendo, têm de ser rechaçadas todas aqueles idéias determinadas, segundo as quais Deus é autor e responsável pelo pecado. Tais idéias são contrárias, não só as Escrituras, mas também a voz da consciência, que dá testemunho da responsabilidade do homem.

1.2. O PECADO TEVE ORIGEM NO MUNDO ANGÉLICO
Se quisermos conhecer a origem do pecado devemos ir além da queda do homem descrita no capítulo 3 de Gênesis e por a nossa atenção em algo que aconteceu no mundo dos anjos.
Deus criou os anjos como seres dotados de relativa perfeição; porém, lúcifer e legiões deles se rebelaram contra Deus, pelo que caíram em terrível condenação. O tempo exato dessa rebelião e queda não é dado a conhecer na Bíblia, porém, em João 8.44 Jesus fala do diabo como aquele que é homicida desde o princípio; e 1 João 3.8 diz que o diabo peca desde o princípio. Bem pouco se diz a respeito do pecado que ocasionou a queda dos anjos; porém, quando Paulo adverte a Timóteo para que nenhum neófito seja designado como bispo, “para não suceder que não se ensoberbeça e caia na condenação do diabo” (1Tm 3.6), concluímos que o pecado do diabo foi a soberba, isto é, o desejo de ser igual a Deus.

1.3. A ORIGEM DO PECADO NA RAÇA HUMANA
A Bíblia ensina que a origem do pecado na história da raça humana, foi a transgressão voluntária de Adão no Éden. O homem deu ouvido à insinuação do tentador, de que, se ele se colocasse em oposição a Deus, se tornaria igual a Deus. Tomando o fruto que Deus proibira, Adão caiu, abrindo a porta de acesso ao pecado no mundo. Ele não apenas pecou, como também tornou-se servo do pecado.
Veja como a Bíblia descreve este triste incidente da história humana:

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram.
Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida.
Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornaram justos.” (Rm 5.12,18,19)


Capítulo 2
O CARÁTER DO PRIMEIRO PECADO DO HOMEM

De acordo com o relato sagrado, o primeiro pecado do homem constituiu em haver Adão comido da árvore do conhecimento do bem e do mal, em desacato à ordem do Senhor: “...da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17).
Não sabemos que classe de árvore era a do conhecimento do bem e do mal. Poderia ter sido uma macieira, uma pereira, ou outra qualquer árvore frutífera. Certamente não haveria nada de pecaminoso em se comer do fruto dessa árvore, se Deus a respeito dela não houvesse dito: “...da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás...”

2.1. SEU CARÁTER FORMAL
Ignoramos a razão pela qual essa árvore é chamada de “árvore do conhecimento do bem e do mal”; porém, segundo uma idéia muito comum, ela se chama assim pelo fato de que o homem, comendo dela, adquiriria conhecimento prático do bem e do mal. Berkhof diz na sua “Teologia sistemática” que esta idéia dificilmente pode se harmonizar com o registro bíblico, quando este afirma que o homem, ao comer dela se tornaria igual a Deus quanto ao conhecimento do bem e do mal, posto que Deus não comete o mal e portanto não tem conhecimento prático dele. Quanto a isso, o mesmo Berkhof é da opinião de que parece muito mais aceitável admitir que essa árvore se chamava assim, pelo fato de que estava destinada a revelar:

1) se o estado futuro do homem seria bom ou mal;
2) se o homem permitiria que Deus determinasse em seu lugar o que lhe era bom ou mal, ou se o homem empreenderia determiná-los por si mesmo.

Qualquer que seja o significado que se dê a árvore do conhecimento do bem e do mal, deve-se ter sempre em mente que a finalidade da sua designação por Deus foi de simplesmente provar o homem, criado à sua imagem e semelhança. Adão teria de demonstrar interesse em se submeter à sua própria vontade ou à vontade de Deus, com obediência implícita e absoluta.

2.2. SEU CARÁTER ESSENCIAL E MATERIAL
A essência do pecado de Adão consiste em que ele se colocou em oposição a Deus, recusando submeter-se à sua vontade e impedindo que Deus determinasse o curso da sua vida. Adão tomou as rédeas da sua vida das mãos de Deus, deterninando seu futuro por si mesmo. O homem, que não tinha nenhum direito sobre Deus, separou-se dele como se nada lhe devesse. Com essa ação, o homem estava como que levantando os punhos para Deus e dizendo: “Eu não preciso mais de ti”.
A idéia de que a ordem de Deus ainda estava na mente do homem no momento do seu pecado é comprovada na resposta de Eva à pergunta de satanás, “nem tocareis nele” (Gn 3.3). Possivelmente Eva quis enfatizar que o mandamento de Deus não havia sido razoável, isto é, era muito mais pesado do que se podia imaginar; foi assim que no desejo de ser igual a Deus, o homem pecou e foi reduzido à categoria de servo do pecado.

2.3. SEU CARÁTER UNIVERSAL
Ainda que muitos tenham opiniões diferentes quanto ao caráter do pecado e o modo como o mesmo se originou, bem poucos se inclinam a negar o fato de que o pecado é um tormento no coração do homem, em todos os quadrantes da terra. Seja em grandes cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, ou nas mais esquecidas aldeias do sul da África, o pecado é um flagelo diário.
A própria história das religiões pagãs testificam da universalidade do pecado. A pergunta de Jó 25.4: “Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?” é feita tanto por aqueles que conhecem a revelação de Deus quanto por aqueles que a ignoram.
Quase todas as religiões dão testemunho de um conhecimento universal do pecado, e da necessidade de reconciliação com um Ser superior. Há um sentimento geral de que os deuses estão ofendidos e de que algo deve ser feito para apaziguá-los. A voz da consciência acusa, o homem diante do seu fracasso em alcançar o ideal da vida perfeita, dizendo que ele está condenado aos olhos de alguém que possui um poder superior.
Os altares banhados de sangue e as freqüentes confissões de agravo, feitas por pessoas que buscam livrar-se do mal, apontam em conjunto para o conhecimento do pecado e da gravidade do mesmo. Onde quer que os missionários cristãos se encontrem apodera-se deles a certeza de que o pecado é um flagelo universal para a humanidade.
Os mais antigos filósofos gregos, na sua luta contra o problema do mal foram levados a admitir a universalidade do pecado, ainda que incapazes de explicar esse fenômeno.
A universalidade do pecado está registrada, entre muitas outras, nas seguintes passagens da Biblia: (Gn 6.5; 1Rs 8.46; Sl 53.3; 143.2; Pv 20.9; Ec 7.20; Is. 53.6; 64.6; Rm 3.1-12, 19, 20, 23; Gl 3.22; Tg 3.1,8, 10.

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