HAMARTIOLOGIA
(A doutrina do pecado)
São os mais diversos, os
conceitos entre os homens que ao longo da história surgiram acerca da origem do
pecado. Irineu, bispo de Lião, na Gália (130-208 d.C), foi talvez, o primeiro
dos pais da igreja antiga a assegurar que o pecado no mundo se originou da
transgressão voluntária de Adão no Éden.
Muitas outras opiniões
quanto ao assunto surgiram desde então. Por exemplo, os gnósticos ensinavam que
o contato da alma com a matéria, tornava aquela, imediatamente pecadora. Esta teoria
despojou o pecado do seu caráter voluntário e ético, como é apresentado nas
Escrituras.
Evidentemente, Deus na
sua onisciência, já via a entrada do pecado no mundo bem antes da criação do
homem; porém, devemos ter o cuidado, ao fazermos esta interpretação, de não
lançarmos sobre Deus a responsabilidade como autor do pecado. Deus é santo (Is
6.3) e não há nele nenhuma injustiça (Dt 32.4; Sl 92.15). O
pecado não teve sua origem na terra, mas no mundo angélico; daí passou Adão,
até que se tornou um flagelo universal.
Capítulo 1
A ORIGEM DO PECADO
Na Bíblia, o mal moral
que assola o mundo, normalmente chamado pelos homens de fraqueza, equívoco,
deslize, se define claramente como pecado. Também podemos encontrar fracasso,
erro, iniqüidade, transgressão, contravenção e injustiça. À luz do ensino geral
das Escrituras, o homem é apresentado como um transgressor por natureza. Mas,
como adquiriu o homem essa natureza pecaminosa? O que a Bíblia diz acerca
disso? Para responder a estas perguntas devemos considerar o seguinte:
1.1. DEUS NÃO É O AUTOR DO PECADO
Evidentemente Deus na sua
onisciência já vira a entrada do pecado no mundo, bem antes da criação
do homem. Porém, deve-se ter cuidado para, ao fazer essa interpretação, não
lançar sobre Deus a causa ou autoria do pecado. Esta idéia está excluída da
Bíblia. Jó 34.10 diz: “Longe de Deus o praticar ele a perversidade, e do
Todo-Poderoso o cometer injustiça.”
Deus é santo (Is 6.3) e
não há nele nenhuma injustiça (Dt 32.4; Sl 92.15). Tiago diz: “Ninguém
ao ser tentado, diga: sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado
pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta”. (Tg 1.13). Deus odeia o pecado,
e a prova disto é que ele enviou Jesus Cristo como provisão, para destruir o
pecado e salvar os homens. Assim sendo, têm de ser rechaçadas todas aqueles
idéias determinadas, segundo as quais Deus é autor e responsável pelo pecado.
Tais idéias são contrárias, não só as Escrituras, mas também a voz da
consciência, que dá testemunho da responsabilidade do homem.
1.2. O PECADO TEVE ORIGEM NO MUNDO ANGÉLICO
Se quisermos conhecer a origem do pecado devemos
ir além da queda do homem descrita no capítulo 3 de Gênesis e por a nossa
atenção em algo que aconteceu no mundo dos anjos.
Deus criou os anjos como seres dotados de relativa
perfeição; porém, lúcifer e legiões deles se rebelaram contra Deus, pelo que
caíram em terrível condenação. O tempo exato dessa rebelião e queda não é dado
a conhecer na Bíblia, porém, em João 8.44 Jesus fala do diabo como aquele que é
homicida desde o princípio; e 1 João 3.8 diz que o diabo peca desde o
princípio. Bem pouco se diz a respeito do pecado que ocasionou a queda dos
anjos; porém, quando Paulo adverte a Timóteo para que nenhum neófito seja
designado como bispo, “para não suceder que não se ensoberbeça e caia na
condenação do diabo” (1Tm 3.6), concluímos que o pecado do diabo foi a soberba,
isto é, o desejo de ser igual a Deus.
1.3. A ORIGEM DO PECADO NA RAÇA
HUMANA
A Bíblia ensina que a origem do pecado na história
da raça humana, foi a transgressão voluntária de Adão no Éden. O homem deu
ouvido à insinuação do tentador, de que, se ele se colocasse em oposição a
Deus, se tornaria igual a Deus. Tomando o fruto que Deus proibira, Adão caiu,
abrindo a porta de acesso ao pecado no mundo. Ele não apenas pecou, como também
tornou-se servo do pecado.
Veja como a Bíblia descreve este triste incidente
da história humana:
“Portanto,
assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,
assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram.
Pois assim
como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação,
assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a
justificação que dá vida.
Porque,
como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim
também por meio da obediência de um só muitos se tornaram justos.” (Rm
5.12,18,19)
Capítulo 2
O CARÁTER DO PRIMEIRO PECADO DO HOMEM
De acordo com o relato sagrado, o primeiro pecado
do homem constituiu em haver Adão comido da árvore do conhecimento do bem e do
mal, em desacato à ordem do Senhor: “...da árvore do conhecimento do bem e do
mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn
2.17).
Não sabemos que classe de árvore era a do conhecimento
do bem e do mal. Poderia ter sido uma macieira, uma pereira, ou outra qualquer
árvore frutífera. Certamente não haveria nada de pecaminoso em se comer do
fruto dessa árvore, se Deus a respeito dela não houvesse dito: “...da árvore do
conhecimento do bem e do mal não comerás...”
2.1. SEU CARÁTER
FORMAL
Ignoramos a razão pela qual essa árvore é chamada
de “árvore do conhecimento do bem e do mal”; porém, segundo uma idéia muito
comum, ela se chama assim pelo fato de que o homem, comendo dela, adquiriria
conhecimento prático do bem e do mal. Berkhof diz na sua “Teologia sistemática”
que esta idéia dificilmente pode se harmonizar com o registro bíblico, quando
este afirma que o homem, ao comer dela se tornaria igual a Deus quanto ao
conhecimento do bem e do mal, posto que Deus não comete o mal e portanto não
tem conhecimento prático dele. Quanto a isso, o mesmo Berkhof é da opinião de
que parece muito mais aceitável admitir que essa árvore se chamava assim, pelo
fato de que estava destinada a revelar:
1) se o estado futuro do homem seria bom ou mal;
2) se o homem permitiria que Deus determinasse em
seu lugar o que lhe era bom ou mal, ou se o homem empreenderia determiná-los
por si mesmo.
Qualquer que seja o significado que se dê a árvore
do conhecimento do bem e do mal, deve-se ter sempre em mente que a finalidade
da sua designação por Deus foi de simplesmente provar o homem, criado à sua
imagem e semelhança. Adão teria de demonstrar interesse em se submeter à sua
própria vontade ou à vontade de Deus, com obediência implícita e absoluta.
2.2. SEU
CARÁTER ESSENCIAL E MATERIAL
A essência do pecado de Adão consiste em que ele
se colocou em oposição a Deus, recusando submeter-se à sua vontade e impedindo
que Deus determinasse o curso da sua vida. Adão tomou as rédeas da sua vida das
mãos de Deus, deterninando seu futuro por si mesmo. O homem, que não tinha
nenhum direito sobre Deus, separou-se dele como se nada lhe devesse. Com essa
ação, o homem estava como que levantando os punhos para Deus e dizendo: “Eu não
preciso mais de ti”.
A idéia de que a ordem de Deus ainda estava na
mente do homem no momento do seu pecado é comprovada na resposta de Eva à
pergunta de satanás, “nem tocareis nele” (Gn 3.3). Possivelmente Eva quis
enfatizar que o mandamento de Deus não havia sido razoável, isto é, era muito
mais pesado do que se podia imaginar; foi assim que no desejo de ser igual a
Deus, o homem pecou e foi reduzido à categoria de servo do pecado.
2.3. SEU
CARÁTER UNIVERSAL
Ainda que muitos tenham opiniões diferentes quanto
ao caráter do pecado e o modo como o mesmo se originou, bem poucos se inclinam
a negar o fato de que o pecado é um tormento no coração do homem, em todos os
quadrantes da terra. Seja em grandes cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo,
ou nas mais esquecidas aldeias do sul da África, o pecado é um flagelo diário.
A própria história das religiões pagãs testificam
da universalidade do pecado. A pergunta de Jó 25.4: “Como, pois, seria justo o
homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?” é feita
tanto por aqueles que conhecem a revelação de Deus quanto por aqueles que a
ignoram.
Quase todas as religiões dão testemunho de um
conhecimento universal do pecado, e da necessidade de reconciliação com um Ser
superior. Há um sentimento geral de que os deuses estão ofendidos e de que algo
deve ser feito para apaziguá-los. A voz da consciência acusa, o homem diante do
seu fracasso em alcançar o ideal da vida perfeita, dizendo que ele está
condenado aos olhos de alguém que possui um poder superior.
Os altares banhados de sangue e as freqüentes
confissões de agravo, feitas por pessoas que buscam livrar-se do mal, apontam
em conjunto para o conhecimento do pecado e da gravidade do mesmo. Onde quer
que os missionários cristãos se encontrem apodera-se deles a certeza de que o
pecado é um flagelo universal para a humanidade.
Os mais antigos filósofos gregos, na sua luta
contra o problema do mal foram levados a admitir a universalidade do pecado,
ainda que incapazes de explicar esse fenômeno.
A universalidade do pecado está registrada,
entre muitas outras, nas seguintes passagens da Biblia: (Gn 6.5; 1Rs 8.46; Sl
53.3; 143.2; Pv 20.9; Ec 7.20; Is. 53.6; 64.6; Rm 3.1-12, 19, 20, 23; Gl 3.22;
Tg 3.1,8, 10.
Nenhum comentário:
Postar um comentário