>

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

JOÃO


JOÃO

Propósito
João, o autor do quarto Evangelho, manifesta com admirável concisão o propósito que o move para escrevê-lo. 

Como que dialogando figuradamente com os seus futuros leitores, explica-lhes que os sinais milagrosos feitos por Jesus e recolhidos “neste livro... foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (20.30-31).

 Esta é, em resumo, a intenção que guia o evangelista a coligir também o conjunto de ensinamentos e discursos reveladores da natureza e razão de ser da atividade desenvolvida por Jesus, o Messias, o Filho unigênito (1.14), enviado pelo Pai para tirar “o pecado do mundo” (1.29) e para dar vida eterna a “todo aquele que nele crê” (3.13-17).

O autor do Evangelho de João (= Jo) apresenta-se, tal qual João Batista, como uma testemunha viva da revelação de Deus. Deus nunca foi visto por alguém (1.18), mas agora deu-se a conhecer por intermédio do seu Filho (19.35; 21.24. Cf. 1.6-8,15). 

Encarnado na realidade humana, o Cristo preexistente e eterno veio conferir à nossa história um novo sentido, uma categoria que excede a toda a nossa capacidade de compreensão e raciocínio. Disso, João Batista prestou um testemunho precursor no começo do ministério público de Jesus.

 Agora, o faz João, o evangelista, a partir da perspectiva do Cristo que vive apesar da morte, do Senhor que, com a sua morte, venceu o mundo (16.33) e que é vida para todo aquele que o aceita pela fé (11.25-26).

A lembrança do Ressuscitado está sempre presente no coração do autor deste Evangelho, como, sem dúvida, ela esteve em cada um dos discípulos que acompanharam o Senhor durante os dias da sua existência terrena (Cf. 2.17,22; 12.16; 14.26; 15.20; 16.4).

 E o acontecimento da ressurreição é como uma linha luminosa que percorre o Evangelho de João desde o princípio até o fim e permite contemplar a figura única e irrepetível do Messias Salvador.

Mais que oferecer uma biografia de Jesus no sentido estrito que hoje damos à palavra, João pretende introduzir o leitor numa profunda reflexão acerca da pessoa do Filho de Deus e do mistério da redenção que nele nos tem sido revelado. 

Em Cristo manifestou-se o amor de Deus, e, por meio dele, o crente tem acesso às moradas eternas (14.2,23), isto é, a uma vida de comunhão com o Pai.
Particularidades do Evangelho
O ponto de partida do quarto evangelista para as suas considerações sobre o Messias não é o mesmo que o de Mateus, Marcos e Lucas. 

João busca outros enfoques, de maneira que, freqüentemente, se refere a situações e eventos ou inclui palavras, ensinamentos e discursos de Jesus não testificados pelos sinóticos. 

Isso permite supor que, provavelmente, João, contando com alguma fonte de informação própria, tenha podido ampliar determinados dados conhecidos e transmitidos por aqueles, admitindo-se sobretudo que, de acordo com o critério mais amplamente aceito, a redação do quarto Evangelho teve lugar depois da aparição dos outros três, em datas próximas ao final do séc. I.

Um aspecto singular deste Evangelho é o persistente interesse em fixar os lugares dos acontecimentos.

 E curiosamente, enquanto Mateus, Marcos e Lucas dão maior atenção às atividades de Jesus na Galiléia, João fixa-se de modo especial nos fatos que têm lugar em Jerusalém (mas cf. Jo 2.12; 4.43-54; 6.1; 7.9).

 Ao mesmo tempo enfatiza que determinadas festas do calendário judaico parecem marcar os momentos escolhidos pelo Senhor para entrar na cidade: a Páscoa (2.23; 11.55), a Festa dos Tabernáculos (7.2), a Festa da Dedicação do templo (10.22) e, inclusive, uma festa não referida com precisão (5.1).

Essa relação simultânea de Jesus com Jerusalém e com as festividades judaicas é um dos elementos de composição que contribuem a dar ao texto deste Evangelho o seu colorido peculiar. Mas não é o único, pois existem outros traços igualmente característicos que é necessário ter presentes. Destacamos entre eles:

(a) A linguagem simbólica (p. ex.: o Verbo: 1.1; a água: 7.37; o pão: 6.35; a luz: 8.12).

(b) As imagens tiradas do Antigo Testamento (p. ex.: o pastor e as ovelhas: 10.1-18; cf. Sl 23; a videira e os ramos: 15.1-6; cf. Is 5.1-7).

(c) As referências culturais ou à natureza humana (p. ex.: as bodas em Caná, a personalidade de Nicodemos, a mulher samaritana, o cego de nascimento).
Autor
Detalhes como os indicados caracterizam o autor como um autêntico judeu, profundamente religioso e bom conhecedor das tradições e das expectativas do seu povo; mas um judeu que encontrou em Jesus de Nazaré o Messias esperado, o Salvador e Senhor, “de quem Moisés escreveu na lei e de quem escreveram os profetas” (1.45; 12.34,38-40; 15.25).

 No entanto, não contamos com muito mais informação acerca da pessoa deste evangelista. Dir-se-ia, melhor, que o mesmo deseja ocultar a sua identidade por trás de um anonimato apenas rompido quando se refere àquele discípulo “a quem Jesus amava” (13.23; 19.26; 20.2; 21.20), de quem em 21.24 se diz que “testifica dessas coisas e as escreveu”.

 A tradição que atribui o Evangelho ao filho de Zebedeu, a “João, seu irmão” (de Tiago) (Mc 3.17) remonta ao séc. II.

Conteúdo
No decorrer dos anos têm sido feitos diversos esforços para estabelecer de algum modo a cronologia dos acontecimentos referidos no quarto Evangelho ou para agrupar logicamente os seus elementos literários. Como é evidente que o propósito de João não foi redigir uma crônica, mas criar uma atmosfera de reflexão que conduza o leitor à fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, a composição do livro também deve ser considerada desse ponto de vista.

Por outro lado, aquilo que se torna claro num primeiro contato com o texto é a sua divisão em duas grandes seções. Delas, uma chega até o final do cap. 12 e está centrada no ministério público de Jesus; a outra, que compreende os caps. 13—21, narra o acontecido em Jerusalém durante a última semana da vida terrena de Jesus, incluindo a sua paixão e morte e a sua ressurreição.

O conjunto de caps. que forma a primeira seção do livro abre-se com um Prólogo (1.1-18) que, com ressonâncias de Gn 1.1, exalta a encarnação da Palavra de Deus, eterna e criadora, na pessoa de Jesus, o Cristo.

 Junto a outros assuntos, o Evangelho se refere aqui a um total de sete milagres ou sinais realizados pelo Senhor para manifestar a sua glória e para que os seus discípulos cressem nele (2.11; 4.48; 5.18; 6.14; 9.35-38; 11.15,40). São os seguintes:

1. A conversão da água em vinho (2.1-11)
2. A cura do filho de um oficial do rei (4.46-54)
3. A cura de um paralítico (5.1-18)
4. A alimentação de uma multidão (6.1-14)
5. Jesus caminha sobre as águas (6.16-21)
6. A cura de um cego de nascença (9.1-12)
7. A ressurreição de Lázaro (11.1-44).

Com respeito a esses atos milagrosos é importante sublinhar o que também se percebe em primeiro lugar na intenção do evangelista, isto é, o seu propósito em destacar o sentido profundo desses milagres como manifestações da atividade messiânica de Jesus. 

Para dar realce a esse enfoque contribuem os diálogos e discursos que em diversas ocasiões acompanham o relato dos sinais (assim em 5.17-47; 6.25-70; 9.35—10.42; 11.7-16,21-27).

A segunda parte do livro mostra Jesus no seu confronto com os poderes públicos, representados particularmente pelas autoridades religiosas dos judeus. 

Encabeça a seção o lavamento dos pés dos discípulos e a predição da traição de Judas (13.1-30); logo depois há um longo discurso dirigido aos discípulos (14.1—16.33), concluído com uma oração conhecida como “sacerdotal” (17.1-26).

 Os caps. 18—19 contêm o relato da prisão, julgamento, morte e sepultamento de Jesus; e os caps. 20—21 são o testemunho que João presta da ressurreição de Jesus e das diversas aparições do Ressuscitado.
Esboço:
Prólogo (1.1-18)
1. Ministério público de Jesus, o Cristo (1.19—12.50)
a. João Batista (1.19-34)
b. Jesus começa o seu ministério (1.35—3.36)
c. Revelação de Jesus como o Cristo e confronto com as autoridades judaicas (4.1—6.71)
d. Revelação de Jesus como a luz e a vida para o mundo (7.1—12.50)
2. Paixão, morte e ressurreição (13.1—21.23)
a. A última ceia (13.1—17.26)
A ceia. O novo mandamento. Discursos de despedida (13.1—16.33)
A oração sacerdotal (17.1-26)
b. Prisão, julgamento, morte e sepultamento (18.1—19.42)
c. A ressurreição (20.1—21.23)
O sepulcro vazio (20.1-10)
Jesus aparece a Maria Madalena (20.11-18)
Jesus aparece aos discípulos (20.19—21.23)
Epílogo (21.24-25)



Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 

Nenhum comentário:

Postar um comentário