ROMANOS
Roma
Os mais antigos dados históricos que existem hoje sobre as origens da cidade de Roma remontam ao séc. VIII a.C.
Naquela época, começaram a povoar-se as sete colinas vizinhas ao rio Tiber, sobre as quais, em um futuro ainda longínquo, haveria de erguer-se a capital do mundo então conhecido.
Aqueles primitivos assentamentos humanos cresceram pouco a pouco, uniram-se entre si, estabeleceram princípios de convivência e assentaram as bases que um dia conduziriam à instauração de um sistema de governo coletivo, conforme o modelo de república que caracterizou Roma entre os séculos VI e II a.C.
À medida em que se afirmava a unidade do Estado, crescia a sua capacidade econômica e militar, de onde se derivou também um forte anseio de possessão territorial que impeliu Roma à conquista de países e à sujeição de pessoas de muitas nacionalidades e línguas diferentes.
Com o passar dos anos, se fez dona de toda a bacia do mar Mediterrâneo e dos seus territórios circunvizinhos e ainda muito mais além.
Na época de Jesus, a república de Roma havia se transformado em império. E foi em pleno coração daquele Império Romano, em parte admirável e em parte cheio de conflitos e moralmente degradado, onde surgiu a igreja para a qual o apóstolo Paulo escreveu esta epístola, sem dúvida a mais importante das suas do ponto de vista teológico.
Propósito
A Epístola de Paulo aos Romanos (= Rm) tem enriquecido o testemunho de gerações de crentes ao longo da história.
A profundidade de pensamento do autor põe em destaque a sua confiança na graça de Deus e manifesta a sua vocação e o fervor que o anima; um fervor evangelizador que inspirou acontecimentos decisivos para a história e a cultura da humanidade.
Quando o apóstolo Paulo redigiu esta epístola, a mais extensa de todas as suas, ainda não tivera oportunidade de visitar os crentes residentes em Roma (1.10-15).
Contudo, a extensa lista de saudações do cap. 16 parece provar que já naquela época contava com não poucos relacionamentos e afetos entre aquele grupo de homens e mulheres que, em pleno coração do império, haviam sido “chamados” para serem “de Jesus Cristo” (1.6).
Não obstante, é esse conhecimento que e o apóstolo demonstra ter de muitos crentes de uma igreja que nunca havia visitado que tem levado alguns estudiosos a pensarem que o cap. 16, originalmente, não fizesse parte desta carta. Julgam que pode pertencer a outra, possivelmente dirigida a Éfeso, onde Paulo havia estado em mais de uma ocasião e, pelo menos uma vez, durante um longo período de tempo (ver a Introdução a Efésios).
Paulo, muitas vezes, havia se proposto a viajar para Roma (1.9-10,13,15; 15.22-23), para ali anunciar o evangelho (1.15) e repartir com os irmãos “algum dom espiritual”, para que reciprocamente se confortassem “por intermédio da fé mútua” em Cristo (1.11-12). Mas é agora, ao considerar a Espanha como campo do seu imediato trabalho missionário, que vê chegar também a oportunidade de realizar a desejada visita (15.24,28).
Nessas circunstâncias, o apóstolo pareceu entender que a sua presença em Roma contribuiria para superar algumas tensões que estavam surgindo na igreja. Passagens como 11.11-25 e 14.1—15.6 revelam que pairava sobre a comunhão fraternal um sério perigo de divisão, por causa de rivalidades surgidas entre crentes de procedência diferente: uns do Judaísmo e os outros do paganismo (cf. a este respeito At 6.1; Gl 1.7; 2.4).
Data e lugar de redação
Esta epístola foi escrita, provavelmente, por volta do ano 55, durante uma permanência de Paulo na cidade de Corinto. Tanto pelo seu conteúdo como pelas suas características literárias, se assemelha à epístola enviada às igrejas da Galácia. As duas pertencem à mesma época e revelam interesses doutrinários semelhantes.
O que não se sabe é qual delas foi escrita primeiro. Por isso, alguns vêem em Romanos uma exposição ampliada, muito refletida e serena, da breve epístola aos Gálatas, enquanto que outros pensam que Gálatas é uma espécie de síntese polêmica e veemente da epístola aos Romanos.
De qualquer forma, ambos os escritos devem ser considerados a partir de uma perspectiva comum, posto que, em definitivo, se trata da transmissão de uma mesma mensagem que inclui conceitos fundamentais idênticos: o domínio do pecado sobre todos os seres humanos (Rm 1.18—2.11; 3.9-19, cf. Gl 3.10-11; 5.16-21), a incapacidade da Lei de Moisés para salvar o pecador (Rm 2.12-29; 3.19-20; 7.1-25, cf. Gl 2.15-16; 3.11-13,21-26), a graça de Deus revelada em Cristo (Rm 1.16-17; 3.21-26, cf. Gl 2.20-21; 4.4-7), a justificação pela fé (Rm 3.26-30; 4.1—5.11, cf. Gl 2.16; 3.11,22-26; 5.1-6) e os frutos do Espírito (Rm 8.1-30, cf. Gl 5.22-26).
Conteúdo e estrutura
Quanto à estrutura literária, Romanos se divide em duas partes principais: a primeira é propriamente doutrinária (1.16—11.36); a segunda, de exortação (12.1—15.13).
Contém, além disso, uma introdução rica em conceitos teológicos (1.1-15) e uma conclusão que completa o texto com um grande número de notas de caráter pessoal (15.14—16.27).
Os temas tratados em Romanos são teologicamente densos, mas Paulo os expõe de um modo ameno e torna fácil a sua leitura introduzindo vários recursos estilísticos: diálogos, perguntas e respostas, citações do Antigo Testamento, exemplos e alegorias.
A seção doutrinária é a mais extensa. Paulo reflete sobre o ser humano, dominado pelo pecado e incapaz de salvar-se pelo seu próprio esforço.
Afirma, como o salmista (cf. Sl 14.1-3; 53.1-3), que todos, tanto judeus como gentios, “pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (3.23); que somente Deus pode salvar os pecadores e que o faz por pura graça, “pela redenção que há em Cristo Jesus” (3.24).
O tema da fé e a sua importância para a reconciliação do pecador com Deus se estende de 3.21 a 4.25.
Em uma linguagem jurídica magistralmente utilizada, o apóstolo introduz termos como “lei”, “mandamento”, “transgressão”, “justificação”, “graça” e “adoção”.
Mas os apresenta sob a nova luz da liberdade e paz oferecidas em Cristo ao pecador que se arrepende, com quem Deus quis estabelecer um definitivo relacionamento de amor e de vida (5.1—8.39).
Os caps. 9 a 11 constituem uma unidade temática que se destaca do resto da epístola. Aqui, Paulo nos revela a sua íntima preocupação porque Israel não chegou a compreender que “o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (10.4).
No entanto, o apóstolo está convencido de que Deus nunca abandonará o seu povo escolhido (11.1-2), visto que “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (11.29). Israel será restaurado (11.25-28), porque Deus terá misericórdia dele como também teve dos gentios (11.11-24,30-32).
A segunda parte de Romanos começa em 12.1. É uma exortação para viver segundo a lei do amor, um apelo à fé e à consciência cristã.
Todo crente é chamado a pôr em prática essa lei, seja dentro de uma congregação de fiéis (12.3-21; 14.1—15.13), seja nos relacionamentos com a sociedade civil (13.7-9) ou com as autoridades e altas magistraturas do Estado (13.1-7).
A fé precisa manifestar-se na autenticidade do amor. Portanto, a fé se opõe a qualquer atitude de soberba pessoal ou coletiva. A jactância e o menosprezo ao próximo não correspondem com a solidariedade, que resulta do amor e á testemunho dele (12.1—15.13).
A partir de 15.14 até 16.27 se desenvolve o epílogo da epístola. É uma extensa e cativante relação de observações pessoais, recomendações e saudações dirigidas a uma série de fiéis, de muitos dos quais se faz constar as virtudes que os adornam.
Paulo une às suas as saudações de alguns dos seus colaboradores, como Timóteo e Tércio, que escreveu a epístola, e também de alguns parentes, como Lúcio, Jasom e Sosípatro (16.21-22).
O cap. 16 não registra somente saudações e recomendações, mas dedica também as suas últimas palavras para animar os seus leitores e para afirmar a vitória reservada aos que confiam no poder de Deus (“E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés”, v. 20).
Finalmente, uma esplêndida doxologia encerra a epístola com chave de ouro (16.25-27).
Esboço:
Prólogo (1.1-15)
1. Salvação somente pela fé (1.16—11.36)
a. Anúncio do tema: O justo viverá pela fé (1.16-17)
b. A indesculpável pecaminosidade humana (1.18—3.20)
c. Justificação mediante a redenção efetuada por Cristo (3.21—4.25)
d. A nova vida de liberdade do justificado pela fé (5.1—8.39)
e. A incredulidade de Israel (9.1—11.36)
2. Exortações: A justificação pela fé aplicada à nova vida (12.1—15.13)
a. Em amor autêntico (12.1-21)
b. Em submissão às autoridade instituídas por Deus (13.1-14)
c. Sem menosprezo ao irmão mais fraco (14.1—15.13)
Epílogo (15.14—16.27)
Os planos evangelísticos do apóstolo (15.14-33)
Saudações, recomendações e doxologia final (16.1-27)
Nenhum comentário:
Postar um comentário