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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

OSÉIAS


                         OSÉIAS
     
O profeta e o seu meio
Oséias, filho de Beeri, exerceu a sua atividade profética entre os anos 750 e 730 a.C. aproximadamente, durante os reinados de “Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel” (Os 1.1).

 Iniciou o seu ministério público pouco depois de Amós, ainda que tenha desempenhado a atividade por muito mais tempo do que este (cf. Os 1.1; Am 1.1) e pregado no mesmo cenário: Israel (cf. Am 7.12), de onde Oséias procedia.

O longo e próspero governo de Jeroboão II (783-743) ainda não havia terminado quando esse profeta começou a sua atividade.

 Na sua pregação, faz freqüentes alusões à situação política do Reino do Norte.

 Tais alusões, de difícil interpretação algumas vezes, são, em outros momentos, um anúncio claro do desastre ao qual se encaminhava o país, do inevitável desfecho que lhe sobreviria com a queda de Samaria, arrasada no ano 712 a.C. pelo furor do exército assírio (2Rs 17.1-6). 

Se o próprio profeta foi ou não testemunha ocular desses acontecimentos trágicos que determinaram o fim da independência política de Israel, o livro não informa.
O livro e a sua mensagem
O Livro de Oséias (= Os) é formado por duas seções. A primeira (caps. 1—3) caracteriza-se pela sua unidade temática. A segunda, de conteúdo mais heterogêneo, abrange o restante do livro (caps. 4—14).

A obra de Oséias é apaixonada, cheia de vigor. Neste escrito, mais do que no de qualquer outro profeta, revelam-se intensos e entrelaçados sentimentos de amor e de ira, de esperança e de desilusão. 

A indiferença de Israel e a sua rebeldia frente às manifestações da paciência e da misericórdia de Deus são expressas em uma linguagem sintética, concisa, feita de frases tão curtas e apressadas, que, às vezes, torna-se obscura e de tradução difícil e incerta.

O começo da mensagem de Oséias é de um extraordinário vigor dramático. A partir da consideração da sua própria vida conjugal e das circunstâncias que a rodeiam, o profeta denuncia a infidelidade de Israel para com o Senhor, que, apesar de tudo, continua considerando-o o seu povo escolhido.

 Talvez o traço mais notável da pregação seja a sua descrição do relacionamento entre Deus e Israel como um relacionamento de amor e frustração entre marido e mulher. E este também é o núcleo da pregação profética: Israel tem sido infiel a Deus, mas Deus não deixou de amar a Israel.

Do cap. 4 em diante, o profeta descreve a perversão em que se acha atolada a sociedade israelita. 

Tudo nela está adulterado ou corrompido: o culto, o sacerdócio, a justiça, a moral e a política, e Israel sofrerá as conseqüências do seu desvio.

 Contudo, ainda há lugar para a esperança, evocada no cap. 11 com palavras comoventes: “o meu povo é inclinado a desviar-se de mim” (v. 7); mesmo assim, “atraí-os com cordas humanas, com cordas de amor” (v. 4).

 Depois, no cap. 14, tendo suplicado: “Converte-te, ó Israel, ao Senhor, teu Deus” (v. 1), o profeta anuncia: “Sararei a sua perversão, eu voluntariamente os amarei” (v. 4). 

Ninguém, antes, havia proclamado com tão patética intensidade que é maior a profundidade do amor divino que os abismos do pecado; que, sobre a ira provocada pela ofensa, prevalecem em Deus a compaixão e o perdão.

A luta de Oséias contra a idolatria se desenvolve em um quadro bem definido. Os israelitas haviam sucumbido à tentação de oferecer culto a deuses estranhos, especialmente aos deuses da fertilidade próprios de outros habitantes de Canaã (8.4-14).

 Eram rituais politeístas nos quais suplicavam ajuda e proteção para os rebanhos e as colheitas, cerimônias idolátricas que Oséias denuncia e combate.

Também são características deste livro o respeito e ainda a veneração com que se refere ao ministério profético, cujas origens remontam a Moisés, pois, por meio dele, Deus “fez subir a Israel do Egito” (12.13). 

Em Moisés e no ministério profético Oséias vê o principal instrumento de que Deus se serve para fazer-se ouvir por Israel (cf. 6.5; 9.8; 12.10,13).

Quanto a temas de natureza política, Oséias afirma que Israel não deve buscar salvação em acordos com o Egito ou a Assíria (12.1; 14.3; cf. Is 30.1-5); mas tão-somente em Deus.

A profecia de Oséias é, em resumo, um ataque frontal aos pecados cometidos pelo povo, o qual pecou sendo infiel ao Senhor e adorou as imagens de deuses estranhos. Israel tornou-se, assim, merecedor de castigo; contudo, o Senhor não fechou o seu coração, porque continua amando e cuidando dele (2.19-20). 

O Senhor o levará outra vez ao deserto (2.14), e lhe dará por morada tendas de campanha (12.9), e ali lhe dirá: “Tu és meu povo!”, e Israel lhe responderá: “Tu és o meu Deus!” (2.23).
Esboço:
1. Primeira parte (1.1—3.5)
a. Título (1.1)
b. Vida conjugal do profeta (1.2—3.5)
2. Segunda parte (4.1—14.9)
a. Infidelidade e castigo de Israel (4.1—13.16)
b. Conversão de Israel e promessas de salvação (14.1-8)
c. Advertência final (14.9)



Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, Os

terça-feira, 27 de novembro de 2012

DANIEL


                         DANIEL

Localização do Livro de Daniel na Bíblia
A tradução grega do Antigo Testamento conhecida como Septuaginta ou a Versão dos Setenta coloca o Livro de Daniel entre os “profetas maiores”, em continuação a Ezequiel.

 Por sua vez, a Bíblia Hebraica o situa entre os Escritos (ketubim), isto é, no grupo de textos que constituem a terceira parte do cânon. 

Essa localização é muito significativa, dadas as importantes características que diferem Daniel dos demais Profetas (nebiim), e permitem considerá-lo, com toda propriedade, como um livro pertencente à chamada “literatura apocalíptica” (ver a Introdução ao Apocalipse).
A mensagem de Daniel
Este gênero apocalíptico se distingue tanto pelos seus traços formais como de conteúdo.

 As mensagens se apresentam revestidas de uma rica roupagem simbólica e são comunicadas em forma de visão para o autor literário, o vidente. 

Este recebe, às vezes, por causa da visão, um forte impacto emocional (cf. 7.28; 10.8,17), que pode levá-lo até à perturbação ou a sofrer algum tipo de transtorno ou doença física de importância (8.27; 10.9; cf. Ap 1.17). 

Assim Daniel, que vê “uma como semelhança dos filhos dos homens”, diz: “por causa da visão, sobrevieram-me dores, e não me ficou força alguma.

 Como, pois, pode o servo deste meu senhor falar com aquele meu senhor? Porque, quanto a mim, desde agora não resta força em mim, e não ficou em mim fôlego” (10.16-17).
Em termos gerais, as mensagens apocalípticas fazem referência à história humana como se se tratasse de um drama composto de dois atos.

 O primeiro deles se desenvolve no momento atual e no mundo presente; o segundo, dado numa perspectiva escatológica, revela o que haverá de acontecer no fim de todos os tempos.

Dessa maneira se expressa o Livro de Daniel. Na etapa atual, momentânea e passageira, o povo de Deus se encontra sujeito a impérios humanos injustos, autores de normas opostas à vontade de Deus, a governos, que, para conseguirem alcançar os seus próprios objetivos, podem perseguir, torturar e até levar à morte os crentes que confessam abertamente a sua fé (cf. 7.25).

 Mas virá o dia em que este mundo irá passar e no qual, repentinamente, se manifestará o Reino de Deus. 

Nesse dia, “muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão” (12.2), e deixarão de existir os impérios terrenos; assim, no seu lugar, “o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno” (7.27; cf. Is 26.19; Ez 37.1-14).
O livro
O Livro de Daniel (= Dn) é formado por duas partes: uma, pelos caps. 1—6, e a outra, pelos caps. 7—12. A primeira parte é essencialmente narrativa e tem um propósito didático, orientado a demonstrar que a sabedoria e o poder de Deus estão infinitamente acima de toda possibilidade e compreensão humanas. 

O protagonista dos relatos é Daniel, um dos jovens judeus levados para a Babilônia em cumprimento às ordens expressamente ditadas pelo rei Nabucodonosor sobre os filhos de Israel, tanto da linhagem real como dos nobres (cf. 1.3). 

Uma vez na Babilônia, Daniel e os seus três companheiros, Hananias, Misael e Azarias (respectivamente chamados por Nabucodonosor de Beltessazar, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego), são educados de maneira especial, com vistas a uma futura prestação de serviço na corte do rei (1.4-7). 

Daniel aprende o idioma e a literatura do Império Neobabilônico (isso significa aqui o termo “caldeus”), e logo se destaca pela sua sabedoria extraordinária (1.20) e pela firmeza das suas convicções.

 Ele e os seus amigos, fiéis ao Deus de Israel, se negam a aceitar qualquer tipo de favor que os leve a quebrar a menor das prescrições rituais do Judaísmo, particularmente as relativas à alimentação; e a recompensa que recebem do Senhor é um melhor aspecto que “todos os jovens que comiam porção do manjar do rei” (1.8-16).

 Essa estrita fidelidade aos seus princípios religiosos os leva, contudo, a enfrentar riscos de morte, dos quais são livrados pela mão do Senhor.

 Quanto à sabedoria de Daniel, esta se evidencia quando, ante o fracasso dos “magos, encantadores e feiticeiros” do reino (2.2,10), Deus lhe concede que descubra e interprete os sonhos de Nabucodonosor (caps. 2 e 4) e também que, na presença de outro rei, Belsazar, decifre o escrito feito na parede por uma mão misteriosa (cap. 5).

A segunda parte (caps. 7—12) contém uma série de visões simbólicas que ampliam e desenvolvem certas noções já esboçadas na primeira seção, mas agora a linguagem da exposição é decididamente apocalíptica.

A primeira visão, de quatro animais monstruosos que sobem do mar, é como uma síntese dos acontecimentos futuros. Trata-se de “quatro animais grandes, diferentes uns dos outros” (7.3), representando os grandes impérios que sucessivamente dominam o mundo, que devoram e arrasam a terra (7.23).

 Mas o Senhor, posteriormente, os deixará sem poder e destruirá por completo (7.26).

 A conseqüência dessa intervenção divina será a mudança radical da situação do mundo presente e da condição humana: a partir desse momento, nada poderá se opor à sabedoria universal e definitiva de Deus.

 Pois, se em nosso mundo de hoje a maldade e a injustiça se mostram, freqüentemente, vitoriosas, no dia assinalado e no momento preciso, Deus se revelará como Senhor da história e soberano do Reino eterno.

 Então, todo o mundo reconhecerá a sua vontade, e o corruptível se revestirá de incorruptibilidade (cf. 1Co 15.53), e “os que a muitos ensinam a justiça” refulgirão “como as estrelas, sempre e eternamente” (12.3).

É evidente que o Livro de Daniel foi redigido com o objetivo imediato de trazer alento ao povo em meio a todas as desventuras e perseguições sofridas. 

Não obstante, de acordo com o sentido geral da literatura apocalíptica, pode-se afirmar que a mensagem de esperança contidas no livro e também os ensinamentos que se tiram dele são totalmente aplicáveis a qualquer momento ou a qualquer circunstância em que se encontre o povo de Deus.
Composição do livro
Até o momento atual não se pôde estabelecer com certeza a data de composição deste livro. As opiniões dos especialistas estão divididas a esse respeito: enquanto uns o datam nos anos do exílio babilônico, outros o atribuem a uma época bastante posterior.

As repetidas referências à profanação do templo de Jerusalém (9.27; 11.30-35) podem ser relacionadas com a perseguição promovida por Antíoco IV Epífanes.
Esboço:
1. Histórias de Daniel e dos seus companheiros (1.1—6.28)
2. Visões apocalípticas (7.1—12.13)
a. Os quatro animais (7.1-28)
b. O carneiro e o bode (8.1—9.27)
c. O mensageiro do céu (10.1—11.45)
d. O tempo do fim (12.1-13)


Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, Dn

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

EZEQUIEL


EZEQUIEL
O profeta e o seu meio
Em 2Rs 24.8 lemos: “Tinha Joaquim dezoito anos de idade quando começou a reinar e reinou três meses em Jerusalém.”

 Esse curtíssimo reinado terminou no ano 597 a.C., quando o rei Nabucodonosor entrou em Jerusalém, despojou todas as suas riquezas e deportou para a Babilônia a maior parte dos seus habitantes: 

Joaquim, rei de Judá, os aristocratas, os militares e os artesãos qualificados; e, junto com todos eles, as suas famílias (cf. 2Rs 24.8-17).

 É muito provável que, naquele tempo, entre os componentes daquela primeira deportação, estivesse também o sacerdote Ezequiel, filho de Buzi.

 Este foi residir às margens do rio Quebar, entre os seus compatriotas cativos, e ali mesmo o Senhor o chamou para exercer o ministério da profecia (cf. 1.1-3).

Recebeu a sua vocação em meio a uma visão que mudou por completo a sua vida. A partir daquele momento, Ezequiel se converteu no porta-voz de Deus junto aos exilados (3.10-11), atividade que desempenhou pelo menos até o ano 571 a.C., ano ao qual corresponde o último dos dados cronológicos contidos no livro. 

Em uma época de grandes convulsões e mudanças políticas como foi a sua, o profeta, a partir da dura realidade do momento em que vivia (cf. 18.2,31-32), contemplava com tristeza a história das infidelidades de Israel: “A casa de Israel se rebelou contra mim no deserto” (20.13; caps. 16; 20; 23).

 Contudo, via com esperança um futuro de salvação: “E habitareis na terra que eu dei a vossos pais; e vós me sereis por povo, e eu vos serei por Deus” (36.28; caps. 36—37).

Na realidade, a situação do reino de Judá, que nunca esteve de todo estabilizada depois dos reinados de Davi e Salomão, foi-se tornando cada vez mais difícil, até que no ano 586 a.C. soou a hora do desastre definitivo: 

Nabucodonosor destruiu Judá, assediou, tomou e arrasou Jerusalém, incendiou o templo e enviou desterrada para a Babilônia a mais representativa parte da população que havia ficado na cidade (2Rs 25.1-21).

Com o passar do tempo, muitos dos exilados acabaram por acomodar-se à sua situação, porque na Babilônia desfrutavam de uma relativa liberdade que lhes permitia formar família, trabalhar, negociar, criar riqueza e, inclusive, alcançar cargos importantes. 

Com efeito, houve igualmente muitos que, protegidos pelo edito do rei Ciro, voltaram à Palestina, à Terra Prometida e à saudosa Jerusalém, a “morada do Altíssimo” (Sl 46.4).

O profeta Ezequiel foi, sem dúvida, uma das pessoas que mais contribuíram para manter vivo entre os judeus do exílio o desejo pelo retorno.

 Essas ânsias de regresso eram necessárias para empreender a reconstrução da cidade e do templo.

 Além disso, eram indispensáveis para evitar que o povo chegasse a perder a sua identidade nacional, por causa da permanência durante um tempo excessivo em um lugar tão cheio de atrativos, como era então a Babilônia, o mais brilhante centro político e cultural do Oriente Médio (cf. Sl 137).
O livro e a sua mensagem
Na primeira etapa do seu ministério, antes que Jerusalém fosse destruída, como é indicado no Livro de Ezequiel (= Ez), o profeta já havia anunciado que a ruína da cidade se aproximava irremediavelmente (9.8-10).

 A história do povo de Israel era por inteiro uma série de infidelidades ao Senhor, a quem por várias vezes abandonaram para prestar honras a deuses estranhos. Mas a cidade de Jerusalém era onde se dava a maior concentração de maldades (caps. 8—12), um lugar cheio de crimes que a justiça de Deus não podia deixar impune (22).

Ezequiel queria dar vigor à mensagem que pregava, para fazê-la calar mais fundo no coração dos seus ouvintes, freqüentemente rebeldes e céticos. 

Como possuía uma voz suave (33.32), os surpreendia, às vezes, com estranhas dramatizações, com atos simbólicos (caps. 4—5) que os convidavam a perguntar-lhe: “Não nos farás saber o que significam estas coisas que estás fazendo?” (24.19).

A queda de Jerusalém veio demonstrar a autenticidade das profecias de Ezequiel (33.21-22). Naqueles momentos, o seu prestígio alcançou provavelmente a mais elevada consideração por parte dos seus compatriotas exilados.

 De forma especial, a missão do profeta consistiu em fazer as pessoas compreenderem as verdadeiras causas do desastre sofrido, bem como em prepará-las para a obra de reedificação à qual os repatriados haveriam de dedicar-se (36.16-19).

 E não há dúvidas de que o seu ministério contribuiu, em grande medida, para fazer do exílio na Babilônia precisamente uma das épocas mais fecundas da história do povo de Deus. 

Ezequiel via no desterro babilônico uma espécie de regresso ao êxodo do Egito, àquele deserto que Israel teve de atravessar antes de entrar em Canaã. E agora, do desterro na Babilônia, haveria de sair, purificado, o novo povo de Deus (20.34-38).

Os temas da pregação de Ezequiel naquele período da sua atividade encerram uma grande riqueza doutrinal, baseada na esperança da salvação que havia de chegar.

 Ele anuncia que o povo disperso seria reunido novamente e conduzido à Terra Prometida (34.13; 36.24). 

Como o pastor apascenta as suas ovelhas, assim o apascentará o Senhor e o guiará a lugares de descanso: “Eu apascentarei as minhas ovelhas, e eu as farei repousar, diz o Senhor Jeová” (34.15). 

Particularmente significativa é a linguagem do profeta quando se refere à transformação que o Senhor há de realizar no povo resgatado do exílio: “Então, espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.

 E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis.” (36.25-27).

A pregação de Ezequiel, enquanto se refere primeiro ao exílio e depois à restauração de Judá e Jerusalém, está contida nas respectivas seções dos caps. 4—24 e 33—39. 

Entre elas se intercala uma série de profecias dirigidas contra cidades e nações pagãs relacionadas com Israel (caps. 25—32), pois, mesmo que em algum momento Deus tenha se servido dos pagãos como instrumentos da sua ira, a soberba e a crueldade com que se conduziram os fizeram credores do castigo que haveriam de sofrer.

Diz-se que na pessoa de Ezequiel convivem o profeta e o sacerdote, o homem contemplativo e o de ação, o poeta e o raciocinador, o anunciador de males e o arauto da salvação. Tal riqueza de personalidade se revela na sua mensagem profética, igualmente rica e complexa. 

Na sua condição de profeta, Ezequiel estava persuadido de haver sido chamado a estar como atalaia sobre Israel em um dos períodos mais críticos da sua história nacional: “veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel” (3.16-21; 33.1-9).

 Ao mesmo tempo, na sua condição de sacerdote, anela pelo retorno da glória do Senhor ao templo de Jerusalém (43.1-5; cf. 10.18-22) e revela um grande horror por tudo quanto significa impureza ritual (4.14) e uma extrema minúcia na distinção entre o sagrado e o profano (43.6—46.24).

Os caps. finais (40—48) contêm uma visão do profeta em referência à situação do povo de Israel, quando, no futuro, se reorganizasse como nação e voltasse a celebrar o culto no templo restaurado (40; 43.7,18).
Esboço:

1. Vocação de Ezequiel (1.1—3.27)
2. Profecias sobre a queda de Jerusalém (4.1—24.27)
3. Profecias contra as nações pagãs (25.1—32.32)
4. A restauração de Israel (33.1—39.29)
5. O novo templo na Jerusalém futura (40.1—48.35)



Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, S. Ez 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

LAMENTAÇÕES


LAMENTAÇÕES
O título do livro
O título deste livro procede da versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta (ver a Introdução à Bíblia). Ali, se denomina Zrénoi (“cantos fúnebres”, “lamentações”, “canções tristes”). Já a Bíblia Hebraica o intitula Eijah (“Que...!”), seguindo o uso judaico de nomear os livros pelo vocábulo inicial de cada um deles. 

Contudo, uma tradição hebraica o havia anteriormente intitulado com o termo “Qinot”, que assim como o grego, significa “cantos”, “lamentações”, “cantos de lamento por um morto” (cf. 2Cr 35.25). Com esse mesmo termo foram designados, mais tarde, os poemas compostos por ocasião de uma grande desgraça ou uma catástrofe nacional (Jr 7.29; 9.10-11,17-21; Am 5.1-2).

No original hebraico, este livro não contém indicação alguma que permita relacioná-lo com Jeremias.

 Assim como sucede com o título, a referência ao profeta aparece na versão grega LXX em uma nota preliminar, que diz: 

“Sucedeu, quando Israel foi levado cativo e Jerusalém assolada, que Jeremias, chorando, se assentou e entoou esta lamentação sobre Jerusalém, dizendo:...”

 A nota do texto grego depois foi incluída na Vulgata (versão latina), e assim se deu força para que o livro se tornasse tradicionalmente conhecido como Lamentações de Jeremias.
Os motivos do livro
O contexto histórico dos cinco poemas que compõem Lamentações (= Lm) é a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor em 586 a.C. (2Rs 25.1-21). 

Esse triste episódio começou a ser recordado, algum tempo depois, pelo povo que mostrava a sua aflição com orações, jejuns e outras formas de expressar dor (cf. Jr 41.5; Zc 7.3; 8.19). 

Além disso, junto às ruínas do templo, celebrava-se determinadas cerimônias para manter desperta a memória daquela grande tragédia e, no próprio tempo a esperança da restauração nacional anunciada pelos profetas (cf. Jr 30.1—31.40).
O livro e sua mensagem
Este livro é formado por cinco poemas que captam o espírito e os sentimentos que animavam tais celebrações cobertas de luto. 

Jerusalém, “a cidade dantes tão populosa”, “a que foi grande entre as nações”, é representada neles como uma mulher que ficou viúva (1.1), como uma mãe que vê desfalecer e morrer de fome os seus filhos ainda pequenos (2.19,22). 

Mas, Lamentações não se limita a chorar o desastre de Judá e de Jerusalém; vez por outra, leva o povo a reconhecer a sua própria responsabilidade e a confessar-se culpado diante do Senhor: “Jerusalém gravemente pecou; por isso, se fez instável; todos os que a honravam a desprezaram, porque lhe viram a sua nudez; ela também suspirou e voltou para trás” (1.8; ver também 1.14,20; 3.42; 4.6). 

Acima de tudo, o povo reconhece que Judá e Jerusalém mereceram a severidade com que as tratou o Senhor, e que ele nunca deixou de atuar com perfeita justiça (1.18).

Assim, Lamentações contém não somente expressões de dor pessoal ou coletiva (cf. 1.12-16; 3.43-47; 5.1-22), mas também outras que dão testemunho da fé profunda do poeta que as criou e da sua total confiança no Senhor (3.21-24,26). 

A elas se unem cânticos de louvor (5.19), ações de graças (3.55-57) e exortações a reconhecer com sinceridade de coração que os acontecimentos adversos que sobrevieram são, em última análise, a conseqüência indubitável de rebeldias cometidas (3.40-42).
A forma literária
Os quatro primeiros poemas correspondem aos quatro primeiros caps. de Lamentações, cada um dos quais se compõe de 22 estrofes dispostas alfabeticamente em forma de acróstico (ver a Introdução aos Salmos), isto é, a letra inicial de cada estrofe se ajusta à ordem estabelecida no alfabeto hebraico (da mesma maneira como ocorre em alguns salmos e em outras composições poéticas do Antigo Testamento).

 Quanto, ao quinto poema de Lamentações, não apresenta a característica alfabética dos quatro anteriores; mas, curiosamente também foi composto dentro do referido esquema de 22 estrofes.
Esboço:
1. Tristeza da Sião cativa (1.1-22)
2. As tristezas de Sião vêm do Senhor (2.1-22)
3. Esperança de libertação através da misericórdia de Deus (3.1-66)
4. O castigo de Sião consumado (4.1-22)
5. Oração do povo afligido (5.1-22)


Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, Lm

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

JEREMIAS


JEREMIAS
O profeta e o seu meio
Em meados do séc. VII a.C., provavelmente entre os anos 650 e 645, nasceu no seio de uma família sacerdotal de Anatote, pequeno lugar próximo a Jerusalém, o menino que, mais tarde, seria conhecido como o profeta Jeremias (1.1).

 Sendo este ainda muito jovem (1.6), o Senhor o chamou para o seu serviço; corria o ano 626, o décimo terceiro do reinado de Josias (1.2), pouco mais de um século depois da época em que viveu e exerceu o seu ministério o profeta Isaías (ver Is 1.1, n.).

Naquele tempo, o domínio da Assíria estava chegando ao seu fim.

 O império neobabilônico acabara de se impor aos restos da grandeza da Assíria, a nação que, especialmente entre os séculos X e VII a.C., conseguiu ampliar os seus limites invadindo enormes espaços da Mesopotâmia, Síria e Ásia Menor. A decadência da Assíria foi muito rápida. 

O mesmo séc. VII, testemunha das maiores glórias daquele grande império, o foi também da perda da sua hegemonia e do final da sua história como Estado independente. No seu lugar, entre 610 e 605 a.C., se levantou a Babilônia, poderosa e renovada.

O desaparecimento do invasor assírio representou um curto período de liberdade para os povos que por eles foram dominados, os quais foram caindo depois, paulatinamente, debaixo do domínio dos babilônicos.

 Mas entre um e outro momento, aproveitando algumas circunstâncias favoráveis, o rei Josias, de Judá, começou a desenvolver uma política de nação independente e a promover a reforma religiosa que deu ao seu reinado um destaque especial (2Rs 22.1—23.27; 2Cr 34.1—35.19).

 Foi um brilhante processo de restauração que foi interrompido no ano de 609 a.C., quando Josias, aos 39 anos de idade, caiu ferido mortalmente em Megido, na batalha contra o exército do Faraó-Neco (2Rs 23.28-30; 2Cr 35.20-27).

 Os monarcas sucessores de Josias, ineptos e com conselheiros imprudentes, não souberam evitar a desintegração política e moral do reino de Judá, cuja degradação culminou com a destruição de Jerusalém (586 a.C.) e a deportação em massa dos seus habitantes para a Babilônia.

Jeremias iniciou o seu ministério no tempo de Josias e continuou desenvolvendo a sua atividade profética durante o tempo dos últimos reis de Judá: Jeoacaz (também chamado Salum), Jeoaquim (ou Eliaquim), Joaquim (ou Jeconias) e Zedequias (ou Matanias).

 Os tempos eram difíceis para o povo, cujos dirigentes mantinham posições políticas conflitantes: uns eram partidários de se submeterem com serenidade ao governo da Babilônia como mal menor; outros defendiam a posição de um concerto com o Egito contra ela. Jeremias, que se viu obrigado a tomar posição no conflito, tratou de convencer Zedequias de que um concerto com os egípcios acabaria em desastre (27.6-8).

 Mas os esforços do profeta, além de causar-lhe não poucos sofrimentos (38.1-13), foram totalmente inúteis, pois o rei, inclinando-se a favor do conselho oposto, decidiu solicitar o apoio do Faraó-Neco. 

O resultado foi catastrófico para Judá, porque as forças egípcias se encontravam em ampla inferioridade diante das babilônicas, como já se havia visto em 605 a.C., na batalha de Carquemis, junto ao Eufrates, “no ano quarto de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá”. 

Esse triunfo de Nabucodonosor significou a consolidação da supremacia da Babilônia (cf. 46.2) e o seu domínio sobre os países invadidos.
O livro e a sua mensagem
O Livro de Jeremias (= Jr) é uma das coleções mais extensas de escritos proféticos. Pode ser dividido em três seções: a primeira compreende do cap. 2 ao 25; a segunda, do 26 ao 45; e a terceira, do 46 ao 51. 

O livro é iniciado com o chamamento do profeta (cap. 1) e encerrado com um resumo da narrativa da queda de Jerusalém (cap. 52).

A primeira seção, poética na sua maior parte, corresponde aos dois primeiros decênios do ministério de Jeremias, que dirige a sua pregação especialmente a Judá e à cidade de Jerusalém, a fim de que os seus habitantes tomem consciência dos seus próprios pecados.

 Propõe ao povo o exemplo da maldade de Israel (caps. 2.1—4.2), exorta-o a mudar de conduta (4.3-4) e insiste em denunciar a mentira, a violência, a injustiça e a obstinação de coração do povo de Judá, males cuja raiz se encontra na infidelidade ao Senhor, no tê-lo abandonado para ir atrás de deuses estranhos (2.13,19,27; 3.1; 7.24; 9.3; 11.9-13; 13.10; 16.11-12).

 A infidelidade ao concerto de Deus haveria de implicar, como inevitável conseqüência, o juízo condenatório contra Judá; e assim, o profeta anuncia sem rodeios a iminência do desastre, e até se atreve a predizer abertamente a destruição do templo de Jerusalém (7.14).

Sobretudo depois da morte de Josias, as acusações e advertências de Jeremias eram dia a dia mal recebidas. 

Os seus concidadãos as rechaçavam com crescente obstinação, e, com isso, repeliam também a presença do profeta (Cf. 11.18-19).

 O porquê daquela teimosia o afetava dolorosamente, de tal forma que acabou chegando a conclusões cheias de pessimismo: “este povo é de coração rebelde e pertinaz” (5.23); “a cegonha no céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, e o grou, e a andorinha observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do Senhor” (8.7); “Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (13.23); “o pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro, com ponta de diamante” (17.1).

A expressão mais comovente dessas dolorosas experiências se encontra nas chamadas “Confissões de Jeremias”, contidas nesta seção: 11.18—12.6; 15.10-21; 17.14-18; 18.18-23; 20.7-18.

 A leitura destas passagens, semelhantes de alguma maneira aos salmos de lamentação (p. ex.: 22; 32; 39; 143), permite descobrir a sinceridade e a profundidade do diálogo que o profeta, nos seus momentos de crise, manteve com o Senhor. Jeremias demonstra a sua decepção e amargura pelos graves sofrimentos derivados do cumprimento da sua missão profética; mas as respostas que recebe do Senhor são desconcertantes: algumas vezes consistem em perguntas, e outras, em fazê-lo entender que as provações não terminaram, e que serão ainda mais difíceis as que virão. 

Desse modo, o Senhor, gradualmente, revela a Jeremias que sofrer por fidelidade à palavra de Deus é um elemento inseparável do ministério profético.

Na segunda seção predomina o gênero narrativo; portanto, está quase totalmente escrita em prosa.

 O autor centra a sua atenção no relato de certos incidentes da sua própria vida, entre os quais introduz alguns resumos das suas mensagens proféticas.

 Estes caps. (26—45) descrevem os dramáticos ataques que Jeremias sofreu, bem como a forma como os suportou sem se desviar da sua missão.

 Esta seção também contém dados que permitem reconstruir o processo de redação do texto de Jeremias (36.1-4,27-32); além disso, nela se faz referência a Baruque, filho de Nerias, companheiro do profeta, a quem, conforme Jeremias ditou, escreveu “todas as palavras do Senhor, que ele lhe tinha revelado, no rolo de um livro” (36.4).

Mas Jeremias não foi enviado somente para arrancar, derribar, destruir e arruinar, mas também para edificar e plantar (1.10).

 Por essa razão, a série de relatos de caráter histórico se interrompe nos caps. 30 a 33, para dar lugar a diversas promessas de esperança e salvação. 

São discursos consoladores colocados junto aos relatos da queda de Jerusalém e da descrição dos sofrimentos de Jeremias, que apontam para a necessidade de que o povo, mesmo em meio às mais infelizes circunstâncias, mantenha firme a sua confiança no Senhor e na sua misericórdia.

Entre tais promessas de salvação, destaca com luz própria o anúncio de que Deus vai restabelecer com Israel o relacionamento que o povo havia perdido por causa das suas infidelidades.

 Aquele antigo concerto será substituído por outro, por um novo concerto, não gravado em tábuas de pedra: “Porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (31.33). 

O anúncio desse novo concerto encontra um eco preciso nas palavras que Jesus pronunciou na noite da “última ceia” (Mt 26.27-29; Mc 14.23-25; Lc 22.20) e também na epístola aos Hebreus (8.7-13).
A terceira parte do Livro de Jeremias (46—51) é formada por um conjunto de mensagens contra as nações pagãs palestinas, mencionadas essencialmente na mesma ordem em que aparecem em 25.15-38, do Egito à Babilônia. 

Mas também anúncios de salvação são incluídos para algumas dessas nações (cf. 46.26; 48.47; 49.6,39). 

Certo é que a atividade do profeta tinha Judá e Jerusalém como primeiro marco do seu compromisso, mas, na sua pregação, não podia esquecer a realidade dos povos vizinhos, bem como o importante significado da sua presença no transcurso da história de Israel (27.1-13). 

Além disso, as mensagens que Jeremias lhes dirige são testemunho da profunda convicção que o anima e com que declara que o Senhor não é Deus só de Israel, mas também de toda a criação; não é Senhor somente de uma história particular, como a do povo eleito, mas também rege a história de todas as nações e de tudo o que é e existe.

O cap. 52, o último do livro, é uma espécie de apêndice histórico que reproduz, com algumas variantes a narrativa de 2Rs 24.18—25.30 sobre a queda de Jerusalém. Essa narração, assim introduzida, demonstra a autenticidade do ministério de Jeremias, confirmado pelo Senhor mediante os fatos que deram pleno cumprimento à palavra do profeta (cf. Dt 18.21-22).
Esboço:
Vocação de Jeremias (1.1-19)
1. Mensagens contra Judá e Jerusalém (2.1—25.38)
2. Relatos autobiográficos e anúncios de salvação (26.1—45.5)
3. Mensagens contra as nações pagãs (46.1—51.64)
Apêndice: a queda de Jerusalém (52.1-34)

Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, S. Jr 1