>

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

DEUTERONÔMIO


DEUTERONÔMIO
O título

O título do quinto livro do Pentateuco, em hebraico, é Debarim (“palavras”). A Septuaginta (LXX), antiga versão grega do Antigo Testamento, o chamou de Deuteronômio. O significado deste termo grego é, propriamente, “segunda lei”. Quando aplicado a este livro, é importante entender que aqui não se trata de uma nova lei diferente da “primeira” (a mosaica), mas de uma repetição da mesma.
A situação histórica

A chegada dos israelitas às terras de Moabe é o fato que, praticamente, marcou o final da caminhada iniciada no Egito quarenta anos antes (1.3). As planícies de Moabe, situadas a leste do Jordão, foram a última etapa daquela longa caminhada, no curso da qual foram morrendo, um após o outro, os membros do povo que tinham vivido a experiência de escravidão e que, depois, coletivamente, haviam protagonizado o drama da libertação (1.34-39; cf. Nm 14.21-38). Este foi o castigo para a pertinaz rebeldia de Israel: com a exceção de Calebe e de Josué, nenhum dos que fizeram parte da geração do êxodo entraria em Canaã. Nem sequer o próprio Moisés, o fiel guia, legislador e profeta (1.34-40; 34.1-5; cf. Nm 14.21-38).
Nas campinas de Moabe, em frente a Jericó, compreendendo que o fim da sua vida estava próximo, “encarregou-se Moisés de explicar esta lei” ao povo (1.5). Reuniu, pois, pela última vez, o povo, para entregar-lhe o que se poderia chamar de o seu “testamento espiritual”. Diante de “todo o Israel” (1.1), Moisés evoca os anos vividos em comum, instrui os israelitas acerca da conduta que deviam observar para serem realmente o povo de Deus e lhes recorda que a sua permanência na Terra Prometida depende da fidelidade com que observem os mandamentos e preceitos divinos (8.11-20).
O conteúdo do livro

O Deuteronômio (= Dt), tal como outros textos de caráter normativo recolhidos no Pentateuco, expressa o que Deus requer do seu povo escolhido. E o faz explicitando concretamente o mandamento que Jesus qualificou de “o principal”: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (6.5; cf. Mc 12.30). Estas palavras são a coluna vertebral de todo o discurso mosaico, que agora assume um caráter mais pessoal do que quando o povo o ouvia no Sinai (chamado de “Horebe” em Dt, com exceção de 33.2), porque ali Moisés se limitou a transmitir o que recebia de Deus, enquanto que, em Moabe, ele fala na primeira pessoa, para, na sua qualidade de profeta (18.15-18), revelar ao povo a vontade do Senhor (4.40; 5.1-5,22-27; 28.1). O Deuteronômio destaca essa imagem de Moisés mediante frases introdutórias como: “São estas as palavras que Moisés falou a todo o Israel” (1.1; cf., p. ex., 1.3,5; 4.44; 5.1). Um lugar de destaque neste livro é ocupado pelo chamado “código deuteronômico” (caps. 12—26), que começa com uma série de “estatutos e juízos” (12.1) relativos ao estabelecimento de um único lugar de culto, de um único santuário, ao qual todo o Israel estaria obrigado a peregrinar regularmente: “Buscareis o lugar que o Senhor, vosso Deus, escolher de todas as vossas tribos...” (12.5; cf. vs. 1-28). A esse núcleo de caráter legal, que aparece no livro precedido dos dois grandes discursos (1.6—4.40 e 5.1—11.32), seguem-se algumas disposições complementares (p. ex., no cap. 31, a nomeação de Josué como sucessor de Moisés) e também advertências e exortações de diferentes tipos (caps. 27—31). Os últimos caps. contêm o “cântico de Moisés”, as “bênçãos às doze tribos” (caps. 32—33), a morte de Moisés (34.5) e o seu sepultamento em um lugar ignorado da região de Moabe (34.6).
A mensagem

O relacionamento especial que Deus estabelece com o seu povo é, sem dúvida, a proclamação que o Deuteronômio sublinha com a maior ênfase. O Senhor é, certamente, o Deus criador do céu e da terra (10.14); porém, com base exclusivamente no seu amor, ele escolheu Israel para com este povo estabelecer uma aliança particular. Antes que o próprio Israel fosse chamado à existência, Deus já havia escolhido os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, aos quais prometeu que os seus descendentes herdariam a terra de Canaã (6.10; 7.6-8). O cumprimento da promessa está permanentemente no horizonte do Deuteronômio. Isso se evidencia, por um lado, na evocação dos acontecimentos que puseram fim à escravidão de Israel no Egito e, por outro lado, na evocação dos muitos prodígios de que o povo foi testemunha durante os anos do deserto. E, agora, junto à margem oriental do Jordão, quando o cumprimento da promessa já está a ponto de se converter numa esplêndida realidade, Moisés exorta os israelitas a que, livremente, se atenham ao compromisso a que a aliança de Deus os obriga: “... te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegando-te a ele” (30.19-20). Ao amor de Deus, Israel deve corresponder com a sua entrega total e sem reservas, acatando a vontade divina: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, e todos os dias guardarás os seus preceitos, os seus estatutos, os seus juízos e os seus mandamentos” (11.1).
Esboço:

1. Primeiro discurso de Moisés (1.1—4.43)
2. Segundo discurso de Moisés (4.44—11.32)
3. O código deuteronômico (12.1—26.19)
4. Terceiro discurso de Moisés (27.1—28.68)
5. Quarto discurso de Moisés (29.1—30.20)
6. Últimas disposições. (31.1—32.47)
7. Último dia da vida de Moisés (32.48—34.12)
a. Visão de Canaã (32.48-52)
b. Bênção de Moisés (33.1-29)
c. Morte de Moisés (34.1-12)





LXX Setenta (a Septuaginta, versão grega do AT
cf. conferir
p. ex. por exemplo
caps. capítulos
vs. versículos
cap. capítulo
Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999; 2005, Dt

Nenhum comentário:

Postar um comentário