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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

JEREMIAS


JEREMIAS
O profeta e o seu meio
Em meados do séc. VII a.C., provavelmente entre os anos 650 e 645, nasceu no seio de uma família sacerdotal de Anatote, pequeno lugar próximo a Jerusalém, o menino que, mais tarde, seria conhecido como o profeta Jeremias (1.1).

 Sendo este ainda muito jovem (1.6), o Senhor o chamou para o seu serviço; corria o ano 626, o décimo terceiro do reinado de Josias (1.2), pouco mais de um século depois da época em que viveu e exerceu o seu ministério o profeta Isaías (ver Is 1.1, n.).

Naquele tempo, o domínio da Assíria estava chegando ao seu fim.

 O império neobabilônico acabara de se impor aos restos da grandeza da Assíria, a nação que, especialmente entre os séculos X e VII a.C., conseguiu ampliar os seus limites invadindo enormes espaços da Mesopotâmia, Síria e Ásia Menor. A decadência da Assíria foi muito rápida. 

O mesmo séc. VII, testemunha das maiores glórias daquele grande império, o foi também da perda da sua hegemonia e do final da sua história como Estado independente. No seu lugar, entre 610 e 605 a.C., se levantou a Babilônia, poderosa e renovada.

O desaparecimento do invasor assírio representou um curto período de liberdade para os povos que por eles foram dominados, os quais foram caindo depois, paulatinamente, debaixo do domínio dos babilônicos.

 Mas entre um e outro momento, aproveitando algumas circunstâncias favoráveis, o rei Josias, de Judá, começou a desenvolver uma política de nação independente e a promover a reforma religiosa que deu ao seu reinado um destaque especial (2Rs 22.1—23.27; 2Cr 34.1—35.19).

 Foi um brilhante processo de restauração que foi interrompido no ano de 609 a.C., quando Josias, aos 39 anos de idade, caiu ferido mortalmente em Megido, na batalha contra o exército do Faraó-Neco (2Rs 23.28-30; 2Cr 35.20-27).

 Os monarcas sucessores de Josias, ineptos e com conselheiros imprudentes, não souberam evitar a desintegração política e moral do reino de Judá, cuja degradação culminou com a destruição de Jerusalém (586 a.C.) e a deportação em massa dos seus habitantes para a Babilônia.

Jeremias iniciou o seu ministério no tempo de Josias e continuou desenvolvendo a sua atividade profética durante o tempo dos últimos reis de Judá: Jeoacaz (também chamado Salum), Jeoaquim (ou Eliaquim), Joaquim (ou Jeconias) e Zedequias (ou Matanias).

 Os tempos eram difíceis para o povo, cujos dirigentes mantinham posições políticas conflitantes: uns eram partidários de se submeterem com serenidade ao governo da Babilônia como mal menor; outros defendiam a posição de um concerto com o Egito contra ela. Jeremias, que se viu obrigado a tomar posição no conflito, tratou de convencer Zedequias de que um concerto com os egípcios acabaria em desastre (27.6-8).

 Mas os esforços do profeta, além de causar-lhe não poucos sofrimentos (38.1-13), foram totalmente inúteis, pois o rei, inclinando-se a favor do conselho oposto, decidiu solicitar o apoio do Faraó-Neco. 

O resultado foi catastrófico para Judá, porque as forças egípcias se encontravam em ampla inferioridade diante das babilônicas, como já se havia visto em 605 a.C., na batalha de Carquemis, junto ao Eufrates, “no ano quarto de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá”. 

Esse triunfo de Nabucodonosor significou a consolidação da supremacia da Babilônia (cf. 46.2) e o seu domínio sobre os países invadidos.
O livro e a sua mensagem
O Livro de Jeremias (= Jr) é uma das coleções mais extensas de escritos proféticos. Pode ser dividido em três seções: a primeira compreende do cap. 2 ao 25; a segunda, do 26 ao 45; e a terceira, do 46 ao 51. 

O livro é iniciado com o chamamento do profeta (cap. 1) e encerrado com um resumo da narrativa da queda de Jerusalém (cap. 52).

A primeira seção, poética na sua maior parte, corresponde aos dois primeiros decênios do ministério de Jeremias, que dirige a sua pregação especialmente a Judá e à cidade de Jerusalém, a fim de que os seus habitantes tomem consciência dos seus próprios pecados.

 Propõe ao povo o exemplo da maldade de Israel (caps. 2.1—4.2), exorta-o a mudar de conduta (4.3-4) e insiste em denunciar a mentira, a violência, a injustiça e a obstinação de coração do povo de Judá, males cuja raiz se encontra na infidelidade ao Senhor, no tê-lo abandonado para ir atrás de deuses estranhos (2.13,19,27; 3.1; 7.24; 9.3; 11.9-13; 13.10; 16.11-12).

 A infidelidade ao concerto de Deus haveria de implicar, como inevitável conseqüência, o juízo condenatório contra Judá; e assim, o profeta anuncia sem rodeios a iminência do desastre, e até se atreve a predizer abertamente a destruição do templo de Jerusalém (7.14).

Sobretudo depois da morte de Josias, as acusações e advertências de Jeremias eram dia a dia mal recebidas. 

Os seus concidadãos as rechaçavam com crescente obstinação, e, com isso, repeliam também a presença do profeta (Cf. 11.18-19).

 O porquê daquela teimosia o afetava dolorosamente, de tal forma que acabou chegando a conclusões cheias de pessimismo: “este povo é de coração rebelde e pertinaz” (5.23); “a cegonha no céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, e o grou, e a andorinha observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do Senhor” (8.7); “Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (13.23); “o pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro, com ponta de diamante” (17.1).

A expressão mais comovente dessas dolorosas experiências se encontra nas chamadas “Confissões de Jeremias”, contidas nesta seção: 11.18—12.6; 15.10-21; 17.14-18; 18.18-23; 20.7-18.

 A leitura destas passagens, semelhantes de alguma maneira aos salmos de lamentação (p. ex.: 22; 32; 39; 143), permite descobrir a sinceridade e a profundidade do diálogo que o profeta, nos seus momentos de crise, manteve com o Senhor. Jeremias demonstra a sua decepção e amargura pelos graves sofrimentos derivados do cumprimento da sua missão profética; mas as respostas que recebe do Senhor são desconcertantes: algumas vezes consistem em perguntas, e outras, em fazê-lo entender que as provações não terminaram, e que serão ainda mais difíceis as que virão. 

Desse modo, o Senhor, gradualmente, revela a Jeremias que sofrer por fidelidade à palavra de Deus é um elemento inseparável do ministério profético.

Na segunda seção predomina o gênero narrativo; portanto, está quase totalmente escrita em prosa.

 O autor centra a sua atenção no relato de certos incidentes da sua própria vida, entre os quais introduz alguns resumos das suas mensagens proféticas.

 Estes caps. (26—45) descrevem os dramáticos ataques que Jeremias sofreu, bem como a forma como os suportou sem se desviar da sua missão.

 Esta seção também contém dados que permitem reconstruir o processo de redação do texto de Jeremias (36.1-4,27-32); além disso, nela se faz referência a Baruque, filho de Nerias, companheiro do profeta, a quem, conforme Jeremias ditou, escreveu “todas as palavras do Senhor, que ele lhe tinha revelado, no rolo de um livro” (36.4).

Mas Jeremias não foi enviado somente para arrancar, derribar, destruir e arruinar, mas também para edificar e plantar (1.10).

 Por essa razão, a série de relatos de caráter histórico se interrompe nos caps. 30 a 33, para dar lugar a diversas promessas de esperança e salvação. 

São discursos consoladores colocados junto aos relatos da queda de Jerusalém e da descrição dos sofrimentos de Jeremias, que apontam para a necessidade de que o povo, mesmo em meio às mais infelizes circunstâncias, mantenha firme a sua confiança no Senhor e na sua misericórdia.

Entre tais promessas de salvação, destaca com luz própria o anúncio de que Deus vai restabelecer com Israel o relacionamento que o povo havia perdido por causa das suas infidelidades.

 Aquele antigo concerto será substituído por outro, por um novo concerto, não gravado em tábuas de pedra: “Porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (31.33). 

O anúncio desse novo concerto encontra um eco preciso nas palavras que Jesus pronunciou na noite da “última ceia” (Mt 26.27-29; Mc 14.23-25; Lc 22.20) e também na epístola aos Hebreus (8.7-13).
A terceira parte do Livro de Jeremias (46—51) é formada por um conjunto de mensagens contra as nações pagãs palestinas, mencionadas essencialmente na mesma ordem em que aparecem em 25.15-38, do Egito à Babilônia. 

Mas também anúncios de salvação são incluídos para algumas dessas nações (cf. 46.26; 48.47; 49.6,39). 

Certo é que a atividade do profeta tinha Judá e Jerusalém como primeiro marco do seu compromisso, mas, na sua pregação, não podia esquecer a realidade dos povos vizinhos, bem como o importante significado da sua presença no transcurso da história de Israel (27.1-13). 

Além disso, as mensagens que Jeremias lhes dirige são testemunho da profunda convicção que o anima e com que declara que o Senhor não é Deus só de Israel, mas também de toda a criação; não é Senhor somente de uma história particular, como a do povo eleito, mas também rege a história de todas as nações e de tudo o que é e existe.

O cap. 52, o último do livro, é uma espécie de apêndice histórico que reproduz, com algumas variantes a narrativa de 2Rs 24.18—25.30 sobre a queda de Jerusalém. Essa narração, assim introduzida, demonstra a autenticidade do ministério de Jeremias, confirmado pelo Senhor mediante os fatos que deram pleno cumprimento à palavra do profeta (cf. Dt 18.21-22).
Esboço:
Vocação de Jeremias (1.1-19)
1. Mensagens contra Judá e Jerusalém (2.1—25.38)
2. Relatos autobiográficos e anúncios de salvação (26.1—45.5)
3. Mensagens contra as nações pagãs (46.1—51.64)
Apêndice: a queda de Jerusalém (52.1-34)

Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, S. Jr 1

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