A IDÉIA BÍBLICA DO PECADO
Dada a importância do
assunto de que trata este texto, e em decorrência dos diferentes conceitos do
pecado, chamamos a sua atenção para as seguintes particularidades do ensino
bíblico sobre o pecado.
3.1. O PECADO
É UMA CLASSE ESPECÍFICA DE MAL
Comparativamente, o que
ouvimos e lemos hoje sobre o mal é mais do que ouvimos e lemos a respeito do
pecado; isto talvez devido à opinião comum de que mal e pecado são a mesma
coisa. Porém, é bom lembrar que nem todo mal é pecado. O pecado não deve ser
confundido com o mal fisico que produz prejuízos e calamidades. O pecado é a
causa do mal, enquanto que o mal é o efeito do pecado.
Os termos bíblicos para
designar o pecado são variados, mas em geral ele é apresentado como “fracasso”,
“erro”, “iniquidade”, “transgressão”, “contravenção”, “carência da lei” e
“injustiça”. Porém, a definição do pecado não pode ser derivada simplesmente
dos termos bíblicos para denotá-los. A característica principal do pecado em
todos os seus aspectos, é que ele está orientado contra Deus, conforme mostram
o Salmo 51.4 e Romanos 8.7.
Porque Davi não foi apedrejado?
3.2. O PECADO TEM UM CARÁTER ABSOLUTO
O contraste entre o bem e
o mal é absoluto, e não há neutralidade alguma entre ambos; tanto que a
transição entre um e outro não é de caráter quantitativo, mas qualitativo. Um
ser moral, que é bom, não se torna mal só por diminuir sua bondade, mas por uma
mudança radical que o leva a envolver-se com o pecado.
Jesus disse: “Quem não
é por mim, é contra mim, e quem comigo não ajunta espalha” (Mt 12.30). O homem tem que
estar ao lado do bem e da justiça, ou do mal. Em assuntos espirituais, a
Escritura não conhece uma posição neutra.
3.3. O PECADO TEM SEMPRE RELAÇÃO COM DEUS
É impossível se ter um
conceito correto do pecado sem vê-lo em relação com a pessoa de Deus e sua
vontade, pois é compreendendo assim que ele é interpretado como “falta de
conformidade com a lei de Deus”. Esta é a definição formal mais correta do
pecado.
As passagens seguintes
mostram claramente que a Escritura vê o pecado em relação à Deus e à sua lei,
contrariando-os.
“Ora, conhecendo eles a
sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tal cousas praticam, não
somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem” (Rm 1.32).
“... se todavia fazeis
acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela
lei como trangressores” (Tg 2.9).
3.4. O PECADO INCLUI TANTO A CULPA COMO A CORRUPÇÃO DA
PESSOA
A culpa é um estado em
que se sente o merecimento do castigo pela violação duma lei moral. Ela
expressa também a relação que o pecado tem com a justiça e com o castigo da
lei. Porém, por ser uma palavra de significado duplo, a culpa tanto denota a
qualidade própria do pecado, como denota a culpabilidade que nos faz dignos do
juízo e do castigo divinos. Dabney fala desse último aspecto da culpa como “a
culpa potencial”. A culpa pode ser removida por meio dum substituto, mediante a
satisfação das exigências da lei divina (Mt 6.12; Rm 3.19; 5.l8; Ef 2.3).
Corrupção é contaminação
inerente a cada pecador; é uma realidade na vida de todo indivíduo. Todo aquele
que é nascido de Adão tem em si a natureza manchada pelo pecado (Jó 14.4; Jr
17.9; Mt 7.15-20; Rm 8.5-8; Ef 4.17-19).
3.5. O PECADO TEM LUGAR PRIMEIRAMENTE NO CORAÇÃO
O pecado não reside em
nenhuma faculdade da alma, mas sim no coraçao, o âmago da alma, de onde flui a
vida. O coração de que fala a Bíblia, é o centro das influências que põe em
operação o intelecto, a vontade e os afetos. Em seu estado pecaminoso, o
coração torna o homem objeto do desagrado de Deus.
Sobre o coração como
invólucro do pecado, escreveu o profeta Jeremias: “Enganoso e o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente
corrupto, quem o conhecerá?”. (Jr 17.9). Você deve ler também Provérbios 4.23; Mateus 15.19, 20; Lucas
6.45 e Hebreus 3.12.
OS PECADOS, ORIGINAL E PRATICADO
4.1. O PECADO ORIGINAL
A condição pecaminosa em
que nasce o ser humano é definida teologicamente como “pecado original”.
Segundo Berkhof, ele é chamado assim: 1) porque se deriva de Adão, o tronco
original da raça humana; 2) porque está presente na vida de cada indivíduo
desde o momento do seu nascimento, pelo que não pode ser considerado como
resultado de simples imitação; e 3) porque é a raiz interna de todos os pecados
atuais que maculam a vida do homem.
Devemos, porém, evitar o
erro de pensar que o termo “pecado original” implica que este pecado pertence à
constituição original da natureza humana, posto que isto implicaria que Deus
criou o homem como pecador.
Dentre os vários
elementos do pecado original, distinguimos para efeito de estudo, os dois que
se seguem:
4.1.1. A CULPA ORIGINAL — A
palavra “culpa”, com relação ao pecado original, expressa a relação que a
justiça tem com o pecado, e, como expressavam os teólogos mais antigos, a
relação que o pecado tem com a pena da lei. É assim que a culpa do pecado de Adão, como cabeça da raça humana,
é imputada a todos os seus descendentes. Com este ensino concordam as passagens
de Romanos 5.12-l9; Efésios 2.3 e
1 Coríntios 15.22.
4.1.2. A CORRUPÇÃO ORIGINAL — A corrupção original do homem inclui a
ausência da justiça original e a presença de um mal real. É a tendência da natureza caída,
herdada de Adão, que condiciona o homem para pecar.
4.2. O PECADO PRATICADO
O pecado se originou num
ato de livre vontade de Adão como representante da raça humana; uma
transgressão da lei de Deus e uma corrupção da natureza humana, que deixou o
homem exposto ao juízo e castigo divinos. E esta natureza corrompida a fonte de
onde fluem todos os pecados praticados.
“Pecados praticados” são
os atos externos que se executam por meio do corpo. São também todos os maus
pensamentos conscientes. São os pecados individuais de fato.
O pecado original é um
só, enquanto que o pecado praticado desdobra-se em diferentes classes,
incluindo atos e atitudes.
O que o apóstolo João escreveu
no capítulo primeiro de sua primeira epístola universal poderá nos ajudar a
compreender melhor a diferença entre “pecado original” e “pecados praticados”.
“Se dissermos que não
temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos
os pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de
toda a injustiça.” (1 João 1.8-9).
A palavra pecado, no
singular, citada no versiculo 8, é uma referência precisa e direta ao pecado
original, ou seja, à natureza decaída do homem, enquanto que a palavra
“pecado”, no plural, citada no versículo 9, refere-se ao pecado praticado, do
nosso dia-a-dia.
4.3 A
CLASSIFICAÇÃO DOS PECADOS PRATICADOS
É impossível classificar
todos os pecados praticados, pois variam de classe e de grau, e podem
diferenciar-se em mais de um ponto. Os
católicos romanos fazem uma bem conhecida distinção entre pecados
veniais e pecados mortais, porém têm dificuldade em identificar qual pecado é
venial ou mortal.
A mais completa lista das
diferentes classes de pecados mencionados na Biblia, é apresentada pelo
apóstolo Paulo na sua epístola aos Gálatas:
“Ora, as obras
da carne são conhecidas, e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria,
feitiçaria, inimizades, porfias, ciumes, iras, discórdias, dissenções, facções,
invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das
quais eu vos declaro, como já outrora vos preveni, que não herdarão o reino de
Deus os que tais cousas praticam” (Gl 5.19-21).
O Novo Testamento
determina a gravidade do pecado de acordo com o grau de conhecimento que se
tenha a respeito dele. Os gentios, que estão no seu pecado, são culpados aos
olhos de Deus; porém, aqueles que gozam do favor do Evangelho e têm a revelação
de Deus são muito mais culpados quando caem. Com isto concordam passagens
bíblicas tais como: Mt 10.15; Lc 12.47, 48; 23.24; Jo 19.11; At 17.30; Rm 1.32;
2.12; 2Tm 1.13, 15, 16.
O pecado pode ser tanto
por comissão como por omissão. Isto quer dizer que, aquele que não faz o bem
que deveria fazer, é tão pecador diante de Deus quanto aquele que derrama o
sangue do seu próximo.
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